A CASA DA FAMÍLIA RURAL

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Capacitação e paixão transformam professor em produtor premiado de queijos

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Foto: Israel Baumann

Um professor universitário que sempre quis viver a rotina do campo conseguiu transformar essa vontade em realidade. Com muita dedicação, busca por conhecimento e capacitação, Jackson Marques Pacheco hoje produz queijos artesanais diferenciados, reconhecidos com prêmios nacionais e internacionais, direto da Fazenda Campo Alegre, em Santo Antônio de Leverger.

As construções que margeiam o Rio Cuiabá formam a área urbana do município com parte do território inserido no bioma Pantanal. Ali está a propriedade de 100 hectares do Jackson, onde ele dedica tempo, alma e coração a cada detalhe.

“No tempo de criança, as férias escolares eram de três meses, diferente de hoje”, conta Jackson ao programa Senar Transforma desta semana. As férias longas daquela época, lembra ele, eram um convite para passar meses em propriedades rurais do Pantanal, em Paranatinga ou Barra dos Bugres, mesmo sem a posse das terras — pois a família da mãe tinha forte ligação com o campo.

Para garantir que a fazenda fosse financeiramente sustentável, o produtor buscou formas de gerar renda, focando em valor agregado mesmo sendo uma pequena propriedade.

“Eu trabalhei com gado de corte, produção de gado PO (puro origem), mas não era viável. Porque você tem de concorrer com os grandes produtores de raça. O leite é uma forma de agregar valor com menor quantidade de cabeça. Agora, o leite tem outro problema. No preço que ele está para o pequeno produtor também fica difícil, a não ser que não compute a mão de obra dele. Aí entra a história do queijo como forma de agregar valor ao pequeno produtor. Essa foi a lógica que eu adotei”.

O desafio e a paixão pela produção de queijos

Com a decisão de migrar para o leite, veio um outro problema. O produtor não sabia fazer queijo — “só sabia comer, comer com bolo de queijo, com um café” —, mas, mesmo assim, decidiu começar a desenvolver queijos fora do padrão tradicional. A primeira tentativa foi há cerca de oito anos.

Para driblar a falta de conhecimento prático, o professor virou aluno. “Fiz vários cursos. Já fiz mais de oito cursos, inclusive pelo Senar”.

Ele reforça a importância da capacitação: “Se você quiser alcançar seu objetivo, a primeira coisa que você tem que fazer é se capacitar. Não adianta você querer trocar os pés pelas mãos. Primeiro capacita, que é importante, para depois você começar a produzir”.

O sabor que conquistou o Pantanal

A dedicação deu resultado. Entre estudos, testes, falhas e acertos, Jackson chegou à fórmula ideal de sabor, consistência, textura e aroma para seus queijos. O curioso é que mesmo adotando o queijo tipo Canastra como referência, ele descobriu em uma ligação que tinha em mãos o produto diferenciado que tanto buscava.

E, assim nasceu o queijo Pantanal, com variações como Pantanal Ouro, Flor do Pantanal e Seminino — este último, nome regional que significa “garoto”.

O queijo regional ganhou destaque em concursos, acumulando prêmios, incluindo internacionais. “O primeiro queijo que fizemos, já ganhamos uma medalha internacional”. Em um concurso em Blumenau (SC), o produtor levou três queijos e os três foram premiados. Em Mato Grosso, quatro queijos foram premiados em um concurso estadual.

“Esse ano nós levamos em Blumenau e tivemos duas premiações. E, também tivemos uma premiação a nível nacional em Brasília. Então já são 10 prêmios”, orgulha-se.

Produção artesanal e qualidade do leite

A ordenha é mecanizada, feita por colaboradores da fazenda. A produção diária gira entre 300 e 380 litros de leite. A fabricação de queijo, segundo Jackson, ocorre uma ou duas vezes por semana, utilizando cerca de 250 litros por vez, o que resulta em aproximadamente 40 quilos de queijo.

O rebanho é composto principalmente por vacas da raça Jersey, cerca de 90%, escolhidas pela qualidade e sabor do leite, mesmo produzindo menos que outras raças. A alimentação segue um padrão com cevada, capim-açu e milho para manter a uniformidade do leite.

Hoje, o queijo do “seo” Jackson é comercializado a cerca de R$ 130 o quilo e tem como público pessoas que apreciam degustar queijos seja acompanhado de vinho, cerveja ou em pratos especiais. “Ele serve para dar sabor a alguns pratos específicos, tanto que entre os nossos clientes estão restaurantes. Os melhores restaurantes de Cuiabá”.

O sinal verde para a comercialização dos queijos foi outra conquista do produtor. A propriedade foi a primeira em Mato Grosso a obter o registro do CAPP, já estampado no rótulo do produto. O Serviço de Inspeção Agroindustrial de Pequeno Porte é um programa do governo estadual com foco em impulsionar a geração de renda e segurança alimentar, além de promover a legalização de alimentos artesanais.

Capacitação: o combustível para a transformação

A busca incessante por conhecimento marca a trajetória de Jackson. O professor que virou mestre na arte de produzir queijos não se acomoda com o que já alcançou. A mobilizadora do Sindicato Rural de Santo Antônio de Leverger, Gleice Kelly Alves da Silva, destaca a importância da capacitação para os produtores locais.

“A capacitação é um ponto primordial para os nossos produtores rurais e um meio de influenciá-los até a procurar o Sindicato Rural para estar se qualificando e entrar em nossos programas de assistência técnica e gerencial”, comenta Gleice.

Jackson tem feito diversos treinamentos e cursos, inclusive na área de laticínios, e pretende participar do programa de Assistência Técnica Gerencial (ATeG) do Senar Mato Grosso, que oferece acompanhamento por até três anos para grupos de produtores.

Rodrigo Gonçalves, supervisor regional do Senar Mato Grosso, ressalta que o conhecimento abre a mente e gera motivação para aprender cada vez mais. “O Senar oferece uma esteira com mais de 200 cursos para capacitar produtores, ajudando a reduzir custos e melhorar a produção”.

Planos para o futuro

Com mais de 30 anos na propriedade e oito anos produzindo queijo, o ex-professor universitário, hoje produtor rural, projeta crescimento para os próximos anos. “Quero continuar me capacitando e chegar a dois mil litros de leite produzidos por dia, que é o limite da legislação para esse padrão. Quero chegar a dois mil litros daqui a dois anos mais ou menos”.

Ele reafirma que o sonho é tornar a fazenda produtiva em termos de qualidade e financeiramente rentável, transmitindo esse conhecimento para o estado e o município. “O papel do educador não é só saber fazer, é saber transmitir”, finaliza.

Em colaboração com Canal Rural Mato Grosso