A pouca formação educacional básica das pessoas que vivem no campo, uma das maiores preocupações dos gestores do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT), é um fator impactante na expansão da qualificação profissional rural, conforme compartilharam as lideranças do agronegócio do Centro-Oeste. O fórum de debate foi a Bienal dos Negócios da Agricultura, realizada nesta semana em Campo Grande (MS), para oportunizar o surgimento de ideias que venham a solucionar ou, ao menos, minimizar a questão e garantir mais e melhor mão de obra para o setor.
Durante o painel Educação como Fator de Transformação das Pessoas e da Realidade na Agricultura, com a participação do especialista sênior da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Fernando Vargas, e do doutor em Economia e professor universitário, Claudio de Moura Castro, tornou-se evidente a necessidade de as entidades ligadas ao setor empenharem-se para tentar associar a melhoria da educação básica na zona rural à formação profissional no campo.
“A OIT tem se preocupado muito com a questão da pobreza no meio rural e a educação está diretamente relacionada a isso. Estudos apontam que um a cada cinco jovens é analfabeto no meio rural do Centro-Oeste”, destacou Vargas. Ele também assinalou a falta de investimento justamente na população jovem, informando que no Brasil, quase 20% não estudam e nem trabalham nas cidades, segundo dados de 2010. No campo, esse índice dobra.
“Dois por cento, na faixa de 10 a 14 anos, não frequentam a escola e 50% frequentam a escola com algum atraso no meio rural. Esse contexto de baixa escolaridade da população do campo deve-se a diversos fatores, principalmente ao acesso físico às escolas. Nossa preocupação é que a gente possa conseguir melhorar essa situação, criar um ambiente melhor, para que essas pessoas, depois do acesso à educação básica, cheguem à educação técnica”, completou o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul, Maurício Saito, um dos mediadores do painel.
O Senar-MT, atento ao desafio, tem estudado formas de contribuir para a formação básica de interessados em obter qualificação para atuar no campo. “O Senar-MT vem trabalhando para ter uma estrutura básica de ensino, para que consiga capacitar os produtores e trabalhadores rurais. Precisamos de uma estrutura de ensino primário para que as pessoas possam assimilar o ensinamento da educação profissional. Temos essa preocupação”, informou a gerente de Educação Profissional da entidade, Tatitane Perondi, após acompanhar o evento.
EXTENSÃO – O secretário-executivo do Senar Nacional, Daniel Carrara, outro mediador, provocou os debatedores ao mencionar o tamanho do agronegócio e as dificuldades, inclusive de distância, que existem no setor para levar e ampliar a qualificação de mão de obra.
“Este é um negócio de 5 milhões de propriedades, com uma população economicamente ativa de 17 milhões. Além disso, temos desafios como a não regularidade das relações de trabalho, a dispersão dessas ‘empresas’, um gap (sic) em formação básica e, quando encontramos talentos, a manutenção desses profissionais na fazenda, sempre atraídos pela vida nas cidades”, enumerou.
Uma das saídas apresentadas pelo doutor em Economia, embora tenha admitido não conhecer com profundidade o universo de qualificação para o campo, é a estratégia de aprender fazendo. Com vasta experiência na formação para indústria, Cláudio de Moura destacou uma máxima deixada pela secular entidade francesa Corporação de Ofício que trata do tema: “O conhecimento mora na cabeça, mas entra pelas mãos”.
“O Senar-MT vem com uma metodologia diferente, quando a gente vai ao campo de trabalho do trabalhador para capacitar. A gente trabalha o básico, você ensina fazendo, aprender a fazer fazendo. Foi bem isso o que ele falou e é o que o Senar faz muito bem, a gente faz isso no campo de trabalho”, salientou Tatiane Perondi.
O Senar-MT faz parte de um conjunto de entidades que formam o Sistema Famato, assim como a Federação, o Imea e os 89 sindicatos rurais do Estado. Essas entidades dão suporte para o desenvolvimento sustentável do agronegócio. O Senar está no Facebook e no Instagram. Curta a Fan Page www.facebook.com/SenarMt e a conta @senar_mt.