A CASA DA FAMÍLIA RURAL

A CASA DA FAMÍLIA RURAL

Adelaide Schneider Dal Maso transformou dor em incentivo

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A perda do marido e provedor da casa poderia ter destruído a família da produtora rural Adelaide Schneider Dal Maso (48). Porém, ela conseguiu transformar a tragédia familiar em incentivo para os negócios. “Na verdade não houve escolha, tive que enfrentar a situação e assumir a lida na fazenda”, conta.

 

O marido de Adelaide, Elenor Dal Maso, foi um dos pioneiros no município de Sapezal (478 km de Cuiabá). Formou lavouras de arroz e soja na região, entretanto, durante o trabalho em um silo de arroz um grave acidente tirou a vida do produtor, na época com 39 anos. Deixando mulher, um filho de 12, uma filha de nove anos e a propriedade rural de onde a família tirava seu sustento.

 

Depois de sofrer o luto, chorar a dor da perda, a saída mais fácil seria vender a fazenda ou arrendar a terra. Mas não era isso que Adelaide planejava. Com 34 anos, sem experiência nenhuma na lida no campo, contudo, com muita vontade de manter vivo o sonho do marido, o de produzir na terra que conquistou, ela arregaçou as mangas e  pois se  a aprender.

 

Adelaide dedicou horas a entender como funciona o agronegócio. Ela participou de palestras e outros eventos do setor agropecuário, leu revistas e jornais especializados e há 14 anos está à frente da Fazenda Santa Rita. “A maior dificuldade era em relação a informações do negócio, pois para o trabalho no campo a gente consegue contratar pessoas qualificadas e seguir na produção, mas para desenvolver a empresa é preciso ter conhecimento do Mercado”.

 

“Nada foi fácil. Tive que enfrentar muito preconceito. Por ser mulher recebi muitos olhares descrentes, gente que pensava ‘essa aí vai quebrar a cara’, mas com a ajuda de meus pais, já falecidos, e de amigos próximos consegui continuar no campo e cultivar a terra”, lembra. “Hoje não percebo mais esses olhares. Já no primeiro ano, quando conseguimos plantar e colher bem percebi que impus um certo respeito”, destaca.

 

“A fazenda tem 1100 hectares de terra, em 2013 produzimos 900 hectares de soja e 670 hectares de milho. Este ano devido à queda no preço do milho registrada no ano passado vamos investir na plantação de 160 hectares de girassol”, revela.  É assim, sem lamentar, que Adelaida fala das altas e baixas do mercado e sempre com muita intimidade. Aprendeu a buscar as melhores fontes de informação e que a qualificação de mão de obra é primordial para manter o sucesso no cultivo da terra.

 

No ano passado Adelaide participou junto com os filhos o engenheiro agrônomo, Diego Dal Maso, hoje com 26 anos e a administradora Diana Dal Maso, agora com 23, do Programa Sucessão Familiar, realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT), com aulas de professores da a FIA (Fundação Instituto de Administração), instituição ligada à USP (Universidade de São Paulo). Idealizado pela Federação da Agricultura e Pecuária (Famato), o programa proporciona o desenvolvimento de herdeiros, sócios e gestores para lidar com os desafios da longevidade das empresas de controle familiar do meio rural de Mato Grosso.

 

“Fui um pouco resistente em participar do programa, pois é sacrificante para a gente deixar a fazenda e ir a Cuiabá assistir as aulas. Mas valeu a pena, principalmente porque os meus filhos estão trabalhando na propriedade e todas as decisões, ainda mais depois do programa, são tomadas em conjunto”, comenta. “A plantação de girassol é um exemplo dessa decisão conjunta. Agora mesmo estamos planejando a construção de um armazém na propriedade, pretendemos implantar um plano de carreira para a empresa rural, enfim muita coisa que vimos no curso estamos trazendo para nosso dia a dia”.

 

Ao analisar tudo o que passou nesse período à frente da Fazenda Santa Rita, Adelaide avalia que tomou a decisão certa. “Alguns projetos ainda estão por serem feitos, mas meu maior sonho que era de me manter na terra e criar meus filhos, consegui realizar”, comemora.

 

Assim como Adelaide há dezenas de outras histórias de mulheres que tiveram que tomar a frente nos negócios da família para não sair no campo. Cada uma com seu motivo, aprendeu a administrar e a gerir o negócio. Mas para isso tiveram que conquistar um espaço que até bem recentemente era ocupado somente pelos homens. Assim como Adelaide, essas outras mulheres também enfrentaram olhares descrentes, preconceito e,  muitas vezes,  tiveram que mostrar o quanto eram competentes para não serem enganadas e ludibriadas.

 

É com orgulho que o Senar-MT conta esta e outras histórias de sucesso para homenagear as mulheres do campo nesta mês de maio, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher.