Por muito tempo, dirigir uma máquina agrícola foi um martírio para o trabalhador rural brasileiro. Diferentemente do que ocorria nos Estados Unidos e na Europa, os fabricantes não se preocupavam tanto com o conforto de quem estava na lida diária do campo no País. Ergonomia e segurança para pilotar um implemento ficavam em segundo plano e a prioridade era oferecer cavalos e mais cavalos de potência aos equipamentos.
Há cerca de dez anos, essa realidade começou a mudar para os agricultores brasileiros e seus empregados. Mais capitalizado e com acesso a diferentes linhas de financiamento, o produtor não queria mais sofrer durante o trabalho na roça e começou a exigir conforto, principalmente em tratores e colheitadeiras. Pesquisadores de universidades brasileiras iniciaram estudos sobre o assunto e perceberam que – apesar da melhora – há muito o que ser feito nesse sentido no País. Estudos científicos de diversas universidades comprovam que o aumento do conforto durante a operação de máquinas agrícolas traz um incremento de 10% na eficiência do operador, dando maior retorno à propriedade, do plantio à colheita.
O coordenador do Laboratório de Investigação de Acidentes com Máquinas Agrícolas (Lima) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Leonardo de Almeida Monteiro, é especialista em ergonomia e segurança em máquinas agrícolas. Filho de produtor rural, ele começou a dirigir tratores na propriedade dos pais, aos sete anos de idade. Vivenciou e escutou os problemas nessa área, estudou em colégio técnico, foi técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e hoje é doutor no assunto.
Ele explica que na última década a tecnologia e o conforto dessas máquinas começaram a ser usufruídos pelos produtores rurais brasileiros. Segundo Monteiro, a mudança aconteceu porque as normas regulamentadoras no País começaram a ficar mais rígidas. "Além disso, atualmente, as montadoras fabricam tratores no Brasil e exportam para todo o mundo. Lá fora temos legislações mais rigorosas, que acabaram sendo incorporadas por aqui."
Apesar desse processo de modernização do setor, Monteiro comenta que ainda existem muitas dificuldades, principalmente quando se trata da antropometria (conjunto de técnicas para medir o corpo humano ou suas partes) relacionada ao biotipo do operador. Como as normas são internacionais, o biotipo do brasileiro, dependendo do estado, está abaixo dessa padronização. "Aqui no Ceará, por exemplo, a média de altura é de 1,60 metro e as plataformas giram entre 1,70 metro e 1,80 metro. Isso acaba trazendo inconvenientes em relação ao conforto do operador."
Outro ponto importante a ser citado é que o investimento em ergonomia ainda está muito atrelado no País às máquinas de maior potência – no caso de tratores, acima de 160 cavalos. "Nesse sentido, as empresas agregam conforto nas plataformas destinadas a trabalhos de maior valor econômico. Vale dizer que ainda temos muitos consumidores, os pequenos produtores na faixa de equipamentos de menor potência, que não estão usufruindo desse tipo de tecnologia."
Já quando se faz uma análise comparativa com o que acontece na Europa, uma questão cultural entra na discussão. Enquanto por lá quem opera a máquina é o próprio dono da propriedade, por aqui é comum o serviço ficar nas mãos dos empregados. "Como na Europa é o dono da terra quem opera a máquina, ele exige todo o conforto necessário e as empresas precisam se adequar a isso. Apesar das temperaturas elevadas, há grande dificuldade de se vender tratores com cabine e ar-condicionado no Brasil, justamente porque o proprietário não quer pagar mais caro para um funcionário utilizar tal conforto."
O SENAR Central, preocupado com a saúde do homem do campo, produziu um vídeo para ensinar os trabalhadores rurais como fazer suas atividades com segurança.
Assista ao vídeo do programa Educação Postural no Campo: Clique aqui