A região com um dos maiores rebanhos bovinos de Mato Grosso e considerada a nova fronteira agrícola do Estado enfrenta uma série de desafios para alcançar a expansão do agronegócio. Alguns deles são a ameaça da demarcação de novas terras indígenas e a transformação de áreas em reserva extrativista pertencente à União. Essas questões foram debatidas por dezenas de produtores rurais do Xingu, municípios do nordeste mato-grossense, com o presidente do Sistema Famato/Senar, Rui Prado, que durante três dias percorreu a região para reconhecer in loco a atual situação. São José do Xingu, Vila Rica, Confresa, Porto Alegre do Norte, Santa Cruz do Xingu e São Félix do Araguaia foram os destinos visitados entre os dias 24 e 26 de junho.
A falta de frigorífico em atuação ao longo de todo Vale do Araguaia, para onde os criadores de gado possam enviar sua produção sem o ônus do transporte a outros estados, é uma das principais questões enfrentadas na região. Ao menos cinco unidades foram fechadas recentemente. "De Vila Rica a Barra do Garças, só temos uma opção de frigorífico", pontuou o presidente do Sindicato Rural de Vila Rica, Eduardo Ribeiro, dentre outros problemas.
Porém, a principal queixa é sobre a possibilidade de criação de uma nova terra indígena para abrigar índios kaiapó à margem direita do rio Xingu, o que configuraria a ampliação da terra indígena Capoto-Jarina, já existe na margem esquerda, mas com outro nome: Capoto-Ninori. O município mais prejudicado seria Santa Cruz do Xingu, onde mais de 80% das terras fariam parte da reserva, estimada em 350 mil hectares a serem demarcados dentro de Mato Grosso. Outras quatro áreas indígenas estariam nos planos da Fundação Nacional do Índio (Funai) para serem criadas na região, prejudicando mais de 20 municípios locais.
"Uma pesquisa realizada pelo Data Folha, a pedido da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária), demonstra que apenas 1% dos índios acha importante a ampliação de terras indígenas. A maioria, mais de 80%, não pede isso, mas quer assistência em saúde e educação. Sendo assim, temos que lutar para que a PEC 215 (Projeto de Emenda Parlamentar) seja aprovada e, para isso, temos que ir para Brasília fazer pressão no Congresso para atingirmos nosso objetivo", orientou o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso em todos os sindicatos que visitou no Xingu.
A PEC 215, presidida pelo deputado federal de Mato Grosso Nilson Leitão, define que nenhuma terra indígena pode mais ser demarcada no país sem que seja votada pelo Congresso Nacional. A estimativa é que até agosto o projeto de lei seja levado à apreciação dos deputados. "A Famato sempre dará todo apoio nessa questão, com orientação técnica e mobilização. Mas o poder de decisão está na mão dos parlamentares. Temos que cobrar deles a posição, pois já são 15 milhões de hectares de áreas indígenas em Mato Grosso, e a União quer transformar mais 7 milhões de ha nisso", ponderou Prado.
No Sindicato Rural de Porto Alegre do Norte, os produtores se reuniram para, além das questões fundiárias, falar da falta de infraestrutura logística na região. A utilização dos recursos do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), cuja parte é repassada aos municípios, foi uma das pautas. "A estrada dos Baianos, uma das principais para nossa região, que compreende cerca de 80 quilômetros de ligação entre vários municípios aqui, é uma de nossas prioridades. Mas precisamos saber se o Estado ou os municípios que terão que pavimentar", levantou o presidente Marcelo Rodrigues.
Sobre o assunto, e aproveitando a presença do prefeito do município, Emival Freitas, na reunião realizada no Sindicato, Rui Prado orientou sobre a criação do Conselho Municipal do Fethab, para que, de forma conjunta e apontando para as prioridades, todos possam decidir a utilização dos recursos. "Também é uma questão de união, nem tanto de fiscalização, mas de forma que a sociedade possa contribuir para as decisões", ponderou.
Ainda em Porto Alegre do Norte e, também, em São Félix do Xingu, a portaria da Secretaria do Patrimônio da União que torna parte da área da região em reserva extrativista, foi um dos principais questionamentos. "Temos que lutar pela revogação dessa portaria e a Famato estará acompanhando isso tudo. Pois uma reserva extrativista não é viável do ponto de vista de sustentabilidade econômica e social, como é a agricultura. Se isso acontece aqui, atinge todo o desenvolvimento, não só do campo, não só para o produtor rural, mas para a população que vive nas cidades", disse Rui, convocando a participação de produtores rurais a uma audiência pública que acontecerá em Cuiabá, no dia 17 de agosto, para debater o assunto.
"Essa reunião com o Rui foi muito produtiva e tem que ocorrer mais vezes, porque ele fala sobre todos os assuntos importantes para nós aqui, que estamos tão distantes. A Famato está a par dessa parte política e pode nos orientar. Valeu muito a visita", avaliou o produtor rural Alessandro Pires Leandro, de Porto Alegre do Norte.
OPORTUNIDADE – Nos municípios de São José do Xingu e Santa Cruz do Xingu, a intenção de ampliar a atividade de pecuária leiteira foi um dos pontos principais para melhorar a qualidade de vida local. Produtores da região, em conjunto com as administrações municipais, têm investido nesta área e esperam o apoio do Sistema Famato/Senar para ampliar a produção. O programa "Balde Cheio", da Embrapa, realizado nos dois municípios, tem sido o caminho adotado.
"A produção de leite é muito importante porque é uma atividade que gira a economia local, ou seja, beneficia a cidade. Nós, líderes do setor, temos que incentivar o leite. Um exemplo é o programa piloto do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) que vai começar em Pontes e Lacerda para levar assistência técnica a 120 produtores de leite locais. Isso será expandido para todo o Estado", informou o presidente da Famato.
Prado também incentivou, em todos os sindicatos pelos quais passou, às diretorias buscarem as capacitações e cursos oferecidos pelo Senar. "Vocês precisam ir ao Senar buscar esses cursos, eles são gratuitos e podem ser levados até os assentamentos também, a partir das necessidades identificadas", reforçou.
Além de Rui Prado, visitaram os seis sindicatos rurais do Xingu o diretor de Relações Institucionais da Famato, Rogério Romanini, e a gestora do Núcleo Sindical, Diana Maia.