Um dos maiores nomes da ciência do solo no mundo, o indiano-americano Rattan Lal, co-laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007 e vencedor do Prêmio Mundial da Alimentação em 2020, foi o responsável pela palestra magna do Seminário Internacional Multidisciplinar do Agronegócio, realizado nesta quinta-feira (22), em Cuiabá. Promovido pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), o evento reuniu representantes de diferentes setores, com o apoio da Esmagis-MT, Fiemt, Fecomércio-MT, OAB-MT e ESA-MT.
Por motivo de saúde, o renomado cientista não pôde estar presente fisicamente no evento. Sua contribuição foi realizada por meio de uma palestra gravada especialmente para o seminário, o que permitiu, mesmo à distância, compartilhar seu conhecimento e reflexões com o público.
“É uma honra poder contribuir, ainda que à distância, com este evento realizado neste estado que representa com grandeza o potencial transformador da agricultura tropical. Mato Grosso é um verdadeiro laboratório a céu aberto de inovação verde, onde a ciência se encontra com a prática produtiva de forma exemplar”, declarou Rattan Lal.
Com o tema “Transformando a agricultura brasileira em um modelo de inovação verde”, Lal defendeu a agricultura praticada no Brasil como referência mundial na conciliação entre produção de alimentos e sustentabilidade ambiental.
Segundo ele, programas como o de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) têm potencial não apenas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas também para reverter o ciclo e alcançar a chamada emissão negativa — quando o solo sequestra mais carbono do que se emite durante o processo produtivo.
“O Brasil é hoje um laboratório vivo da agricultura tropical sustentável. O sucesso do programa ABC precisa ser extrapolado para os países em desenvolvimento. Acredito que os países dos Brics, juntos, podem fazer uma grande diferença. O milagre do Cerrado mostra o que é possível realizar”, destacou o pesquisador.
Em sua apresentação, Lal desafiou o que considera uma percepção equivocada sobre o papel da agricultura nas mudanças climáticas. Para ele, a produção agropecuária deve deixar de ser vista como um problema ambiental e passar a ser reconhecida como parte da solução.
“Precisamos mudar o mindset global. A agricultura é essencial — ela nos alimenta três vezes por dia. Mas precisamos produzir mais com menos: menos terra, menos água, menos energia, menos poluição. É possível. A chave está na adoção de boas práticas conservacionistas, como plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta e recuperação de áreas degradadas”, afirmou.
Lal também abordou a importância de se valorizar os serviços ambientais prestados pelos produtores. “Precisamos recompensar não só quem produz mais, mas quem produz melhor. Quem adota tecnologias sustentáveis deveria receber apoio financeiro por isso”, defendeu.
Grande parte da fala de Rattan Lal girou em torno da importância do solo — um recurso frequentemente negligenciado, segundo o cientista. “Não existe água limpa nem ar puro sem solo saudável. O solo é um ser vivo, respira, abriga 25% da biodiversidade terrestre e tem o poder de transformar morte em vida”, declarou.
O pesquisador criticou a ausência do solo nas metas globais de sustentabilidade e defendeu que ele tenha o mesmo reconhecimento e proteção legal concedidos a animais e florestas.
Ao destacar o potencial da tecnologia agrícola desenvolvida no Cerrado brasileiro, Lal propôs que o país exerça um papel de liderança global, especialmente na cooperação com países que tenham similaridade de biomas, tornando a transposição das soluções brasileiras altamente viável.
De acordo com Rattan Lal, Mato Grosso é exemplo de como aliar alta produtividade com práticas sustentáveis. “Mato Grosso lidera a produção agropecuária do Brasil e avança na adoção de tecnologias como plantio direto, integração lavoura-pecuária e recuperação de pastagens. Essas ações contribuem para a saúde do solo, a captura de carbono e a preservação ambiental. O que se faz aqui mostra que é possível produzir cuidando dos recursos naturais. O estado pode inspirar outros países a desenvolver uma agricultura regenerativa e de baixo carbono. O mundo precisa conhecer e aprender com essa experiência”, finalizou o cientista indiano-americano.
O Seminário Internacional Multidisciplinar do Agronegócio segue até esta sexta-feira (23), com painéis sobre inovação tecnológica, segurança jurídica no campo e sustentabilidade.