A morosidade com que são realizadas obras de infraestrutura logística no Brasil foi o ponto-chave da participação do presidente do Sistema Famato/Senar, Rui Prado, no evento Diálogos Capitais, na manhã desta terça-feira (08/03). Com o tema Setor Portuário, Desafios e Oportunidades, a proposta do encontro, realizado pela revista Carta Capital e o governo federal, foi promover a discussão entre poder público e setor privado sobre as perspectivas do aumento de exportações no país por meio do eixo centro-norte.
Prado destacou a importância do setor produtivo para a manutenção do saldo positivo da economia nacional, bem como a falta de contrapartida do governo em realizar os empreendimentos necessários para o escoamento da produção.
“Será que o governo não conversa com o governo? Para citar um exemplo, aqui na BR-163, no trecho da serra de Nobres (Caixa Furada), salvo engano, só para sair o EIA/RIMA (estudo de impacto ambiental) foram três anos. Afinal de contas, o Ibama é uma instituição do governo, assim como o DNIT. E isso, para fazer o estudo do impacto ambiental de uma duplicação, ou seja, já tinha o estudo para instalação da rodovia. Me parece que o governo tem interesse de manter a coisa enrolada para não ter que botar a mão no bolso” criticou o representante dos produtores rurais de Mato Grosso.
O ex-diretor geral do Dnit e empresário de Mato Grosso, Luís Antônio Pagot, enfatizou a demora no processo de autorização para empreendimentos de logística. “Hoje, para se licenciar uma estação de transbordo, a mais simples que existe, a Marinha dá a autorização em oito dias úteis, depois que preenchidos todos os requisitos. Daí, você vai para a SPU (Secretaria do Patrimônio da União). Lá, o sistema está sempre fora do ar e você pode comemorar se conseguir que saia um RIP (Registro Imobiliário Patrimonial) o em um ano! Ou seja, é uma autarquia brasileira atrapalhando o desenvolvimento do Brasil”.
A realidade da falta de infraestrutura especificamente no Estado, assim como o descrédito que o país enfrenta foram citados por Prado. “Estamos num estado onde ainda há pontes de madeira, e pontes de madeira sem funcionamento; estamos num estado onde ainda há estradas sem pavimentação. Vivemos uma crise de credibilidade política e econômica no país e está aqui o próprio representante do Dnit falando da dificuldade de fazer investimentos”.
Os representantes do agronegócio, único setor da economia que responde, por mais um ano, positivamente com o Produto Interno Bruto (PIB) nacional, com crescimento de 1,8%, e ainda gerando mais de 5,8 mil postos de trabalho em janeiro só em Mato Grosso, sentem-se desfavorecidos na tomada de decisões quando o assunto é logística de transporte.
“Nós, produtores rurais, que somos usuários desses modais de transporte, o que precisamos é que as coisas aconteçam em tempo hábil. É chover no molhado dizer que os investimentos em logística vão trazer retorno para o Brasil. Mas nosso país, no que me parece, ainda está no sentido contrário ao do desenvolvimento” apontou o presidente do Sistema Famato/Senar.
Prado foi endossado pelo anfitrião no evento, o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Jandir Milan, que exemplificou a alavancada de escoamento por meio de hidrovias e portos com a experiência do rio Mississipi nos Estados Unidos. “De New Orleans a Nova Iorque, a viagem pelo rio Mississipi, você vê ali a produção agrícola toda voltada para o curso do rio. A diferença é muito grande quando se analisa o custo da tonelada no frete. Outra coisa que estamos perdendo. Ganharíamos muito mais se tivéssemos hidrovias em funcionamento”.
O ministro da Secretaria de Portos, Helder Barbalho, presente na parte inicial do evento, informou que, conforme um plano de obras de infraestrutura lançado há nove meses pelo governo federal, existem investimentos em diversas áreas, mas que a questão portuária está mais adiantada.
“Na área dos portos, nós já estamos um processo de viabilização desses investimentos, sejam em terminais privados, sejam nos leilões como também nos arrendamentos. Estamos dentro da agenda que está prevista para os próximos anos lembrando que, fundamentalmente, esses investimentos são privados e que ao governo cabe facilitar, construir o ambiente adequado de atratividade para que haja interesse da iniciativa privada em investir” informou Barbalho.
Estiveram também presentes no debate dois senadores por Mato Grosso, Blairo Maggi e Wellington Fagundes, além do deputado federal Valtenir Pereira e o prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes.