O diretor da Associação Americana de Soja (ASA), Ray Gaesser, esteve em Cuiabá (MT) nesta sexta-feira (24) participando do painel Políticas Agrícolas e o Agronegócio, durante o Seminário Internacional de Integração do Agronegócio com o Sistema Judicial.
Gaesser é produtor de soja de Corning, Iowa (EUA). Como membro da Iowa Soybean Association desde os anos 80, foi presidente da associação estadual em 2007-2008. Também atuou no Comitê de Produtos Agrícolas do Departamento de Desenvolvimento Econômico de 2006 a 2011. Opera uma fazenda de 6 mil alqueires, onde planta 3 mil alqueires de soja e 3 mil de milho.
Nesta entrevista exclusiva ao Agrodebate, ele fala sobre política agrícola norte-americana; desafios como aceitação da biotecnologia, investimentos em infraestrutura e transporte; e superação de políticas de restrição de comércio.
Qual é o atual cenário da política agrícola norte-americana?
RAY GAESSER – No sentido mais amplo, o cenário de políticas agrícolas neste momento é moldado pelo esforço do setor de criar e executar políticas agrícolas que permitem produtores fazerem seus trabalhos e ao mesmo tempo ajudar a trabalhar com consumidores para que seus medos e maus entendimentos sobre a agricultura sejam tratados. A agricultura nos EUA não é mais um caso simples de “sim, nós podemos”, e sim uma questão em duas partes, de “podemos?” e “deveríamos?”. Nós na agricultura sabemos que a resposta a essas duas perguntas é sim, porém se tornou nossa responsabilidade ajudar legisladores e consumidores se sentirem confortáveis com essas respostas. Em relação às políticas específicas, vimos no mercado global que nossa vantagem competitiva permanece nossa infraestrutura de transportes e temos que continuar a trabalhar para manter e atualizar nossa cadeia de fornecimento. Para complementar, continuamos nosso trabalho na área da política de benefícios tributários ao longo prazo, bem como nossa busca por estabilidade na política nacional de combustíveis renováveis.
Quais os principais desafios da Associação Americana de Soja (ASA)?
RAY GAESSER – Como é o caso de todas as subindústrias agrícolas nos EUA, o nome do jogo é relevância. A ASA continua a fazer esforços para elevar nosso recado acima do ruído que cerca a discussão agrícola mais ampla. Há muitos grupos em Washington implorando para serem ouvidos e se nós não encontrarmos uma forma de alcançar legisladores e formadores de opinião, o progresso nas nossas questões será perdido. Neste momento, aceitação da biotecnologia é um desafio doméstico muito grande, tal como nossa política de comércio progressivo. Se não conseguirmos fazer com que legisladores e consumidores reconheçam os benefícios de produzir e utilizar menos e expandir os relacionamentos que temos com nossos parceiros estrangeiros, não teremos chance de expandir o sucesso dos nossos produtores. Transporte e infraestrutura continuam sendo um desafio significativo, especificamente a necessidade de financiamento e uma resolução da trava e disfunção no congresso que impede investimentos de longo prazo. Em relação à política tributária, barreiras políticas e orçamentárias continuam impedindo a reforma tributária e a política tributária de longo prazo. Por último, o governo Americano parece ter tomado um passo grande na implementação da nossa norma de combustível renovável, então esperamos ter mais certeza e estabilidade nesta questão nos próximos anos.
Qual é a posição da associação sobre a política agrícola para este e os próximos anos? Como isso influencia o mercado norte-americano?
RAY GAESSER – Nossas maiores preocupações são para garantir que a ASA possa se engajar com o comércio internacional com maior transparência e clareza, principalmente em relação a questões de biotecnologia e que os EUA e a família da soja continuem a engajar no desenvolvimento de atividades de acesso ao mercado tais como acordos internacionais de comércio como a TPP, TTIP e WTO. Na política de fazendas, precisamos continuar a construir consenso para flexibilidade na plantação para o próximo projeto de lei, e, ao mesmo tempo, superar políticas de restrição de comércio, principalmente na China e União Europeia (UE). Em relação às influências do mercado, nosso trabalho no transporte é tão crítico porque impacta na nossa habilidade de levar a soja aos consumidores globais de forma eficiente, pontual e com menor custo. Em relação aos encargos, este tem o potencial a afetar a estabilidade financeira de produtores de soja e de suas decisões de investimento em relação a terras, equipamentos e expansão. Por último, o mercado de biodiesel absorve a produção excedente de óleo de soja, melhorando a situação econômica da soja e impedindo que o óleo seja um atraso na demanda e oferta de farelo de soja.
O seminário é realizado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e o Tribunal de Justiça (TJ-MT) e a programação continua neste sábado.