POR BENTO MINEIRO*
A convite da Revista Globo Rural, estive, em julho, em um dos encontros do programa Futuros Produtores do Brasil, idealizado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato) em conjunto com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). A atividade aconteceu na fazenda Gamada, em Nova Canaã (MT). Parceira da Embrapa, a propriedade da família Wolf é considerada referência de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Em 85 hectares, funciona uma unidade de referência tecnológica, onde a pastagem divide espaço com plantações de eucalipto, pinho cuiabano, teca e pau de balsa. Além disso, a fazenda, de 2.420 hectares, conta com pecuária de ciclo completo de nelore e rúbia galega. E tem áreas destinadas ao cultivo de soja e milho. A visita é importante para trazer referências para esses jovens. No caso da fazenda Gamada, por exemplo, a questão da sucessão também é discutida e demonstra o que é possível ser feito.
As viagens promovidas pelo Futuros Produtores do Brasil têm como ponto de partida a cidade de Cuiabá. Os interessados devem residir no Mato-Grosso e estar no ensino médio ou cursando até o 2º ano do ensino superior para se inscrever. Ser filho, neto ou sobrinho de empresários do agronegócio na região também é um dos critérios de escolha. De acordo com o regulamento, apenas uma pessoa por família pode concorrer às vagas. O programa Futuros Produtores do Brasil está em sua segunda edição. Este ano, a iniciativa está sendo patrocinada pela Monsanto. Sindicatos rurais e o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) atuam como parceiros.
Com três anos de duração, o programa é gratuito para os participantes e acontece em diferentes etapas, como se fosse um curso. Em 2013, quando foi lançado, uma turma de 30 jovens foi selecionada para participar das atividades, que acontecem ao longo do ano. Em 2014, um novo grupo foi escolhido e a turma do ano anterior continuou sua formação. Na programação, estão previstas visitas técnicas, palestras com especialistas, encontros vivenciais e dinâmicas de grupo.
O primeiro ano é dedicado a despertar o interesse dos jovens pela produção agropecuária. Eles são levados a fazendas-modelo e participam de um coaching coletivo para seu autoconhecimento.
Dinâmicas de carreira
A segunda fase dá continuidade a esse processo, mas está focada em dinâmicas de carreiras relacionadas ao agro.
Durante os encontros planejados para o segundo ano, o participante conhece empresas nacionais e estrangeiras e é estimulado a pensar sua vida profissional associada aos negócios da família. Sendo apresentado a novas oportunidades, pode considerar um cenário que concilie a gestão do patrimônio rural a uma carreira de sucesso no campo.
Em um terceiro momento, o jovem é convidado a acompanhar o dia a dia de profissionais da área. Por enquanto, estão previstas para 2015 atividades na Famato e o retorno a fazendas-modelo para conhecer mais de perto a rotina no campo. Nessa fase, os jovens também terão contato com sindicatos, federações e associações de classe.
Recentemente, inclusive, o Departamento Rural Jovem recebeu uma das turmas do Futuros Produtores do Brasil. Para nós, é um prazer contribuir com o programa e estimular a formação de novas lideranças políticas no setor.
Para a agenda dos ingressantes em 2014, estão programadas visitas a fazendas, à Bolsa de Valores de São Paulo e ao Porto de Santos.
A iniciativa mato-grossense foi inspirada no Future Farmers of America (FFA), projeto americano criado em 1928 e que, só em 2013, atendeu 58.000 jovens dos Estados Unidos, Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas. No Brasil, a ideia chegou por intermédio do ex-diretor executivo da Famato, Seneri Paludo – atual Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – que, em viagem aos Estados Unidos, conheceu a FFA.
A versão americana ressalta os aspectos da vida do homem que vive no campo e valoriza sua responsabilidade social, tanto como produtor de alimentos quanto como motor da indústria, comércio, financiamento e pesquisa. Da mesma forma, busca formar lideranças para o setor, uma vez que é de extrema importância estratégica ter porta-vozes capacitados para defender os interesses do segmento.
Hoje acompanhado por Walter Valverde, diretor executivo da Famato, e coordenado por Cristhiane Brandão, o Futuros Produtores do Brasil representa, sem dúvida, uma grande oportunidade de estímulo à permanência dos jovens no campo. Uma vez desenvolvido no maior Estado agrícola do país, o programa deve trazer, aos poucos, resultados positivos para as outras unidades da federação. Lugares esses onde o agronegócio não é menos importante socioeconomicamente.
*Bento Mineiro, 24 anos, é diretor da Sociedade Rural Jovem da Sociedade Rural Brasileira e das Fazendas Santa’Anna