Avaliar de forma econômica a viabilidade dos sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) ainda é um desafio para produtores, técnicos e pesquisadores. Para colaborar nesta avaliação, desde o ano passado o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) realiza pesquisas de viés econômico nas Unidades de Referência Tecnológica da Embrapa, as chamadas URTE’s, localizadas em oito propriedades rurais do Estado e no sítio tecnológico da Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop-MT. Os primeiros resultados mostraram que usando o sistema integrado Lavoura-Pecuária (iLP) é possível obter rendimentos significativamente maiores do que os obtidos pela produção tradicional de soja e milho.
No melhor caso observado, segundo a pesquisa, o lucro líquido chegou a R$ 2.350 por hectare, tendo como principal produto a produção de bovinos e como produto secundário a soja. Já no sistema integração Lavoura-Floresta (iLF) o maior rendimento chegou a R$ 1.442 por ha.
Os dados foram apresentados durante o Seminário de Desenvolvimento de Unidades de Referência Tecnológica e Econômica de Mato Grosso realizado nesta quinta-feira (17.07), em Cuiabá-MT. O evento foi promovido pelo Imea, Embrapa Agrosilvipastorial e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), com o apoio da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).
O superintende do Imea, Otávio Celidonio, explica que o objetivo das pesquisas é aprimorar os resultados dos sistemas por meio da criação de uma metodologia que possa mensurar os ganhos e as perdas do produtor. “Como cada sistema tem seu tempo de maturação, o produtor acaba tendo dificuldade de avaliar objetivamente seu retorno econômico. Por exemplo, com a soja o retorno é de cerca de 120 dias, com a pecuária varia entre dois a três anos, já a madeira pode superar 20 anos, no caso da teca. Já sabemos que tecnologicamente e ambientalmente os sistemas integrados são viáveis, mas o nosso objetivo é tentar trazer um modelo que o produtor possa utilizar e adaptar a sua realidade para comparar os resultados e avaliar ganhos e perdas”, disse Celidonio.
Para o chefe geral da Embrapa Agrossilvipastoril, João Flávio Veloso, as informações econômicas mensuradas pela metodologia desenvolvida pelo Imea e Embrapa irá auxiliar também as instituições financeiras na hora de avaliar projetos de financiamento dos produtores. “Esses dados são essenciais para as agências de fomento e bancos avaliarem os projetos e disponibilizarem recursos para os produtores investirem na sua produção, pois será possível mensurar o tempo que levará para o produtor ter o retorno dos investimentos e quitar a dívida”, afirma Veloso.
O gestor de projetos do Imea, Daniel Latorraca, comenta que o projeto é de longo prazo e as pesquisas continuam. Porém, os primeiros resultados foram bastante satisfatórios. “Estamos falando de sistemas de longa duração, como no caso da teca, que leva até 25 anos para encerrar o ciclo. Mas os primeiros resultados já são bastante significativos. O Imea e a Embrapa continuarão as pesquisas, agora utilizando esta nova ferramenta de mensuração da parte econômica do negócio”, pontuou Latorraca.
O produtor rural Arno Schneider, um dos primeiros a apostar em sistemas integrados em Mato Grosso, investe na integração Pecuária-Floresta (iPF) há 12 anos. Em sua propriedade, localizada em Cuiabá-MT, são 70 hectares destinados à plantação de teca e cerca de três mil animais. Para ele, a falta de informações de viés financeiro faz com que muitos produtores ainda tenham resistência à técnica. “Implantei a integração na minha propriedade como forma de diversificar a produção. É preciso entender que os sistemas integrados são uma maneira de adicionar renda à uma atividade já praticada na propriedade e não a substituição de uma pela outra. A falta de informações econômicas ainda repele muitos produtores de iniciar esta técnica. Este mecanismo de avaliação econômica será um incentivo a mais, já que agora será possível mensurar o que estamos ganhando e perdendo”, analisou Schneider.
Ferramenta – Durante o evento, o Imea e a Embrapa lançaram a ferramenta URTE, que vai possibilitar a avaliação econômica do sistema de iLPF. Em uma planilha, produtores e técnicos devem inserir dados como custo, receita, custos administrativos, mão de obra, uso da terra, operacional, entre outros, e a partir destas informações será possível gerar relatórios. O download pode ser feito no site www.imea.com.br, no ícone “Estudos e Projetos”, clicando em “Instrumento de Avaliação Econômica iLPF”.
O presidente em exercício do Sistema Famato, Normando Corral, elogiou a iniciativa. “Estamos muito contentes com esta parceria com a Embrapa. Graças a ela, conseguimos colocar o conhecimento a serviço da humanidade. E o Imea, que é um órgão confiável e de referência nacional, tem importante papel neste projeto”, disse Corral.