Suplente de deputado federal, Neri Geller (PP) atuou na Câmara Federal por dois anos na atual legislatura e na passada. Antes, foi vereador por dois mandatos em Lucas do Rio Verde, onde é produtor rural. Em 7 de janeiro deste ano, foi indicado pela bancada federal de Mato Grosso para o comando da Secretaria Nacional de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
São quase dois meses à frente da Secretaria Nacional de Política Agrícola, uma das mais importantes do Ministério, como o senhor está se sentindo?
Estou muito motivado, o setor está passando um momento extremamente importante no contexto econômico do país, o governo precisa do setor, a economia brasileira é muito movida por ele, a indústria também depende do setor agrícola e o governo tem feito sua parte. É muito forte com linhas de crédito, mas tem alguns gargalos que nós precisamos resolver ainda, como redirecionar alguns recursos, algumas linhas específicas e estamos trabalhando nisso, por exemplo o Programa de Sustentação de Investimentos (PSI) que já tem R$ 120 bilhões de reais. Ele contempla hoje, basicamente a indústria e eu já sentei com o ministro Mendes Ribeiro e com a diretoria do BNDES para contemplar não só os equipamentos, mas toda a estrutura na questão da armazenagem.
A armazenagem é uma preocupação especial entre as metas da Política Agrícola?
Sem dúvida, é uma das principais porque temos um problema em Mato Grosso, no Centro-Oeste e nas regiões de fronteira agrícola por conta da questão logística e o avanço da produção muito forte, principalmente em relação às áreas degradadas de pastagem e com isso não estamos conseguindo acompanhar. A armazenagem é um meio de amenizar o problema da logística porque vai chegando a safra, você não tem onde colocar, tem que escoar a produção, se nós tivermos armazéns, é possível fazer um planejamento com mais prazo. A estrutura portuária hoje não comporta para levar toda a produção em 60 dias. O principal gargalo é a logística e na sequência a armazenagem.
Em relação à Pecuária, o senhor avalia que houve um foco maior do governo federal na agricultura, em função de sua importância econômica?
A agricultura avançou por causa do mercado internacional, pela sua rentabilidade, o aumento do consumo internacional que acabou alavancando mais a produção de grãos e essa produção avançou sobre as pastagens degradadas. Nós precisamos dar uma atenção especial à pecuária, porque se tem que cuidar da criança que tem mais problemas. A estratégia do governo federal é no setor de estocagem, mas a pecuária também é importante porque a manutenção do rebanho bovino, se nós temos milhões de hectares que estão sendo incorporados da pastagem para a produção de grãos, automaticamente nós vamos ter problemas lá na frente com a manutenção do rebanho bovino, então o governo tem que direcionar recursos e estratégias de políticas públicas para que esse setor não fique para trás. A pecuária é uma atividade extremamente importante para a economia do país e o governo está tendo essa percepção para melhorar e o bom disso é que o setor é tão dinâmico que detém tecnologia para fazer a lavoura e a pecuária integradas. A partir desse momento a pecuária passa a ser rentável também.
Mas ela passará a ser rentável também para os pequenos produtores?
Sem dúvida. Tem recursos hoje de fácil acesso. A única coisa que precisa é aumentar os recursos para determinados programas de incentivo.
Como é lidar, na secretaria, com as diferenças do setor no país devido às variadas características geográficas e as peculiaridades de cada região?
Sinceramente, estou muito motivado por causa disso. Conheço o Rio Grande do Sul porque nasci lá. Meu pai era agricultor. Fui morar em Santa Catarina por oito anos vivendo na agricultura, morei um tempo no Paraná e depois vim para Mato Grosso onde estou há 29 anos na agricultura. Exerci o cargo de deputado, liderança na Aprosoja, em sindicatos. Eu conheço bem a agricultura porque vivo isso e gosto disso. Estive na semana passada em Goiânia discutindo o Plano Safra e depois segui para o Rio Grande do Sul discutindo suinocultura e agricultura porque os produtores estão preocupados com a falta de milho na região.
No Brasil vai faltar milho? Esta tem sido uma preocupação mundial.
Não vai faltar milho no país porque Mato Grosso está produzindo muito e tem uma previsão de uma supersafra. Nós exportamos, no ano passado, quase 20 milhões de toneladas e temos ainda, no Estado, 1,200 mil toneladas e o Brasil não precisa de mais de 700 mil toneladas. Temos um excedente de 12 milhões de toneladas só que no Rio Grande do Sul falta, se nós não criarmos políticas públicas para aqui abastecer lá, vai ser mais fácil levar a produção para o Mercosul. O produtor não consegue ser sustentado porque não tem consumo e a logística para exportação é muito longa, então temos que criar mecanismos. Hoje temos programas de escoamento da produção para as regiões do país.
Existe uma política de reserva para o mercado interno?
Aí estamos falando a minha língua. Já saiu a portaria do Mapa para 4 milhões de toneladas de milho para reposição de estoque e balizamento de mercado com um preço de até R$ 20. Se eu tivesse que sair hoje da secretaria, já teria valido a pena só por causa disso. O Brasil não precisa ficar preocupado, o governo federal está atento.
Ser de Mato Grosso, o maior Estado produtor do complexo soja, que é o que mais tem puxado as exportações, fortalece o seu trabalho ou gera resistência?
Me dá força. Se nós resolvermos os problemas do Centro-Oeste, vamos ajudar a resolver os problemas de todas as regiões brasileiras.
Do ponto de vista político, a atuação na secretaria está sendo mais produtiva que na Câmara Federal?
Eu tenho um projeto bem claro para ajudar o Estado e tenho uma consciência muito clara de que eu fui indicado pela nossa bancada federal e pelo setor. Estou muito motivado para exercer a função como secretário. Se Deus me permitir e eu conseguir ficar lá, vou permanecer até o final do mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Eu tenho consciência de que é um cargo de confiança e assim como eu entrei, posso sair, assim como estou bem hoje, amanhã posso estar sem o cargo. Quem me conhece sabe, quando fui deputado federal eu era suplente e sempre soube disso, nunca mendiguei para ser deputado, fui com a força do meu trabalho, assumi, fui muito grato à época ao presidente da Assembleia, José Geraldo Riva (PSD), ao senador Blairo Maggi (PR) e ao governador Silval Barbosa (PMDB), mas depois, quando houve o problema com o secretariado e os deputados retornaram à Câmara, voltei para casa e fui cuidar da minha vida. Quando foi ventilado o meu nome para a secretaria, eu nunca mendiguei isso. Se for, é para ser útil. Politicamente, tenho alguns compromissos firmados com Mato Grosso que rigorosamente serão cumpridos