A prometida safra recorde de soja, em Mato Grosso, segue firme nas suas projeções e deve sim atingir as 24 milhões de toneladas aguardadas pelo mercado. No entanto, volume que atende ou supera as expectativas não é garantia de boa safra aos olhos de quem produz, já para o sojicultor a boa safra é sinônimo de grãos de qualidade e remuneração que compense os investimentos, afinal, o plantio recente ficou 20% mais caro que o anterior. Enquanto o último hectare ainda está longe de ser colhido, o atual ciclo, 2012/13, vai batendo recorde de problemas, sustos e perda de renda. Não bastante a qualidade ruim dos grãos colhidos de meados de janeiro até agora, o que desvaloriza o produto, o frete, em apenas uma semana aumentou mais de 20% e o escoamento, está apenas começando.
O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) traz no seu boletim semanal justamente a preocupação do produtor com os custos do frete. “Com o avanço da colheita e o registro das perdas nesses primeiros meses de trabalho, um fator já esperado começa a preocupar os produtores mato-grossenses: a alta no preço dos fretes”, movimento que deve durar e também tirar o sono na hora de transportar o milho segunda safra.
Desde a semana retrasada o Imea vem acompanhando de perto a elevação do frete para Mato Grosso. O custo do transporte nos trechos mais utilizados para o escoamento da safra excede a 20%. De Sorriso – maior produtor de soja e milho do Estado – a Paranaguá o frete aumentou 20,8% em uma semana, saindo de R$ 240 a tonelada para R$ 290. O trecho Sorriso a Santos passou de R$ 250/t para R$ 300/t também na semana, incremento de 20%.
Alheio ao mercado mundial da soja e aos fatores internos diretamente relacionados à produção do grão, o Imea lembra que contribuíram para a expressiva alta a elevação do preço do combustível e o impacto da Lei 12.619, a chamada “Lei do Caminhoneiro”. “A novidade é que, além dos prejuízos ocasionados pela alta do frete, os produtores do Estado foram surpreendidos com problemas logísticos. A greve no porto de Santos na manhã da última sexta-feira e a greve parcial no porto de Paranaguá no mesmo dia colocaram em foco a preocupação quanto ao escoamento do grão mato-grossense em vias de novo recorde”.
Desde antes da semana do Carnaval, o Imea vem chamando à atenção para evolução do custo do frete que em meados deste mês já revelava majorações de 17,6%, 2,1% e 2% nos trechos com origem em Sorriso e destinos como Rondonópolis (sul do Estado), Paranaguá (PR) e Santos (SP), respectivamente.
A alta sobre o preço do transporte, que sempre é contabilizada neste período de pico de colheita, terá pelo menos quatro fatores contra a renda do sojicultor. O primeiro é a previsão recorde, que se confirmada, adicionará ao mercado 13% mais toneladas em relação ao ano passado sobre o já concorrido transporte de cargas.
O segundo aspecto é que a concentração da colheita por imposição climática está levando todo mundo a acionar as plantadeiras ao mesmo tempo e assim, contratando de maneira simultânea o frete.
Um terceiro ponto como explica o vice-presidente Norte da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), Naildo Lopes, é que ao contrário do ocorrido no ano passado, a quebra da produção do Sul do país trouxe mais caminhões para puxar a safra mato-grossense e mesmo assim, o volume de carretas ficou abaixo da necessidade. “Neste ano com certa recuperação dessas lavouras no Rio Grande do Sul e no Paraná, os caminhoneiros lá em janeiro já avisavam que não iriam vir para o Estado. A precária logística e a péssima trafegabilidade das estradas e rodovias, não são nenhum atrativo a estes profissionais”, argumenta.
O quarto agravante é que não apenas o Estado tem projeções recordistas para a oleaginosa, mas também o país e isso aumenta a pressão pelo transporte.
O CLIMA – A elevação do volume colhido, aumentando a demanda por transporte, começa a sufocar a frota disponível no Estado e para o Estado. A safra está com apenas 43% da área colhida – atraso de 8,5 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado – e “mesmo assim, com todas as dificuldades impostas pelo clima, registra-se a falta de caminhões nos pontos de embarque”. Ainda conforme o Instituto, não apenas a maior demanda por carretas e caminhões têm estrangulado o escoamento da soja. “O atraso nas filas de descarregamento de soja e que resulta em falta de caminhões para o carregamento na lavoura. Como a soja está sendo colhida muito úmida, o trabalho de recepção do produto é dificultado, trazendo um reação em cadeia e piorando o momento”.