Apesar da expectativa positiva, existem incertezas quanto ao clima, que pode prejudicar as lavouras em desenvolvimento. Após subir mais de 30% em 2012, a cotação do arroz deve cair com força nos próximos meses. Com o início da colheita do grão, o governo prevê que a saca de 50 quilos, atualmente em R$ 37, deve ficar perto do preço mínimo – R$ 25,80 – até março. O cereal subiu 36,6% em 2012. Em virtude dessa expectativa, o ministério anunciou que não realizará leilão de venda do grão nos próximos meses e cancelou o pregão que ocorreria na semana passada.
O arroz foi um dos alimentos que mais contribuíram para a alta da inflação. O preço do grão subiu 36,6% em 2012 e respondeu por 0,65% da alta do IPCA. Com a previsão de queda, começam a ser estudadas formas de auxiliar o escoamento do grão. Hoje, o Rio Grande do Sul colhe 70% do arroz produzido no país, ante 45% em 2004. Isso equivale a 8 milhões das 12 milhões de toneladas que devem ser produzidas em todo o país.
Dessa forma, existe receio de que seja preciso uma intervenção, da mesma maneira que ocorreu com o milho no ano passado, para o produto chegar a outras regiões do país. Por enquanto, o governo aguarda para ver se o próprio mercado é capaz de resolver o problema. Caso existam problemas no escoamento, a Conab intervirá, por meio de leilões de escoamento, para garantir o abastecimento.
Já sobre o feijão, que sofreu alta de 31,53% na variedade carioca – a mais consumida no Brasil -, ainda pairam incertezas em relação à sua produção. O clima instável em regiões produtoras, como o Paraná, pode frustrar a safra. A Conab espera que haja quebra no Estado que já registra chuvas acima do ideal. Por isso, a colheita foi suspensa em alguns municípios, e parte do que foi colhido e estocado pode ser perdido com a umidade.
Apesar de contar uma quebra, a Conab avalia que não será nada "significativo" e que haverá outras duas safras para recuperar as perdas. Segundo uma fonte da estatal, a alta de preços é especulativa, e a segunda e terceira safras serão suficientes para recuperar as perdas.
Outro problema com o feijão carioca é sua difícil armazenagem e o fato de perecer em apenas um ano, ao contrário do feijão preto. Para a fonte, falta investimento da Embrapa para melhorar a semente e expandir a durabilidade do grão.
O pior cenário está no pão francês, responsável pelo impacto de 1,04% no IPCA. Com a previsão de colheita da menor safra de trigo em cinco anos – de 4,3 milhões de toneladas -, o país terá que importar 7 milhões de toneladas.
A safra ruim coincide com restrições argentinas à exportação de trigo. Com isso, o Brasil será obrigado a importar volumes elevados do cereal de fora do Mercosul, com o pagamento de 10% de Tarifa Externa Comum (TEC). Normalmente, menos de 5% das importações brasileiras são trazidas de fora do bloco. Nesta temporada, essa fatia deve alcançar entre 35% e 42%.
O setor produtivo nacional espera uma forte alta no custo de aquisição pelos moinhos. No ano passado, a alta superou os 50% e grande parte desse reajuste já foi passado para o preço da farinha. Outros repasses devem ser feitos no primeiro semestre deste ano.
Para fontes do governo, o peso do pão no IPCA só é grande devido a dificuldade de incluir farinha de mandioca na receita. O projeto de lei 5332/2009, de autoria da deputada Elcione Barbalho (PMDB/PA), cria o "pão brasileiro" com a inclusão de mandioca e derivados na receita tradicional, mas está parado desde 2009 na Câmara dos Deputados. Segundo uma fonte do governo, o lobby das indústrias de trigo consegue paralisar essas iniciativas, que tornariam o pão mais barato ao usar um produto brasileiro e que pode ser cultivado em quase todo o território nacional.
A inflação da mandioca e da farinha extraída desse tubérculo em 2012, de 91% segundo a Conab, foi um "ponto fora da curva". Para técnicos da estatal, o preço só subiu devido à seca que atingiu o Nordeste, mas deve se normalizar este ano. Além disso, a área com a cultura no Paraná perdeu força nos últimos cinco anos para a cana.
O segmento de carnes, que apresentou deflação em 2012, deve começar 2013 em alta, segundo o presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Antenor Nogueira. A tendência, diz ele, é de alta no preço devido a fatores como falta de chuva nos pastos. Segundo Nogueira, em Goiás, Tocantins, norte de Minas Gerais e em Mato Grosso a chuva ficou abaixo do necessário para preparar o pasto.
Para o produtor de leite, 2012 não foi bom. Enquanto o preço do litro pago ao produtor permaneceu em cerca de R$ 0,80 por litro, os custos de produção subiram mais de 20%, segundo o Cepea/Esalq, afetados pela guinada nos preços do milho e farelo de soja e a seca. Os produtores aguardam a entrada da nova safra de grãos para baratear a ração e esperam que janeiro traga as chuvas desejadas.