Mesmo com o plantio da nova safra de soja, a temporada 2012/13, iniciado há mais de duas semanas no Estado, o ápice dos trabalhos se dá a partir deste mês com a intensificação das chuvas. Apesar de toda vontade e preparo do sojicultor os trabalhos esbarram na falta de insumos básicos, como sementes e fertilizantes, que mesmo negociados há mais seis meses ainda não foram entregues nas propriedades. Essa demora coloca em risco a supersafra estadual, tanto sobre o aspecto volume e qualidade dos grãos, como também, sobre a performance da segunda safra, que depende da antecipação da soja.
O mês de outubro é o período de melhor recomendação agronômica para o cultivo da soja e qualquer atraso na semeadura traz riscos às lavouras, riscos que se traduzem em perdas para quem produz e para produção estadual que pode não atingir a projeção de 24,13 milhões de toneladas, a maior já esperada na série histórica local.
Como relata a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), os produtores estão preocupados com a demora na entrega. A situação é decorrente de greve nos portos e da logística falha e pode prejudicar o início efetivo da nova safra. As primeiras chuvas estão caindo sobre o Estado, mas muitos não têm insumos para começar o plantio. “A situação está crítica. Alguns produtores não têm um quilo de adubo na fazenda”, informou o coordenador da comissão de Gestão da Produção da Aprosoja/MT, Naildo Lopes.
Como explica a entidade, a greve dos servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi o estopim para o efeito cascata que agora culmina no atraso da entrega de produtos. Mas, além da greve, a incerteza em relação à nova lei que regula a jornada dos caminhoneiros também impactou no aumento do preço do frete. “O transporte aumentou muito e agora alguém terá que arcar com o ônus, pois o produtor já pagou para receber o produto na sua fazenda”, afirmou Lopes.
O vice-presidente da Aprosoja/MT na região oeste, Alex Utida, contou que teve problemas para transportar os insumos. “Comprei para retirar no porto, mas mesmo assim não consegui caminhões suficientes para chegar à minha fazenda”, disse. Ele começou o transporte de quatro mil toneladas de adubo em abril e só terminou há poucos dias antes de começar a plantar.
A demora nas entregas não chega a surpreender o segmento. Em meados de agosto o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja/Brasil), Glauber Silveira, já havia externado essa preocupação ao ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, quando pediu a intervenção da União. Na época em que acenou com a possibilidade de problemas pontuais com fertilizantes, principalmente, ele deixou claro que os atrasos prejudicaria duplamente o produtor, especialmente os pequenos e médios, primeiro pelo repasse dos custos e segundo, pela possibilidade de o produto vir a faltar – não estar disponível nas propriedades no momento em que o produtor precisar – o que atrasa os trabalhos.
“A agricultura é uma atividade que tem prazo, porque depende de clima, se não houver entrega do nutriente no prazo que o produtor acordou haverá muito prejuízo”, argumentou durante a audiência com o ministro. E completou: “Nosso alerta é para evitar que haja atrasos na entrega”.
Como explica a Aprosoja/MT, o Brasil importa 50% do fósforo, 75% do nitrogênio e 90% do potássio usados como matéria-prima na mistura para os fertilizantes. Segundo Lopes, estes materiais chegam ao país pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR) e vem até Rondonópolis (210 quilômetros ao sul de Cuiabá), onde ficam as indústrias misturadoras. “Mais uma vez percebemos como a logística é ineficiente”, ressaltou.
SEMENTES – O coordenador alerta também para a possível falta de sementes para os produtores iniciarem efetivamente a safra 2012/13. “As filas nas sementeiras também estão grandes para embarcar os produtos”, afirmou. De acordo com ele, há problemas para ensacar as sementes e despachar via caminhão o que também emperrando a entrega. E, para agravar, o produtor não pode estocar a semente na propriedade porque precisa estar refrigerada. “Não tem como comprar com um mês de antecedência, por exemplo. A semente é o único ser vivo usado no plantio e a alta temperatura faz com que reduza o poder de germinação”, explicou Naildo. Mais uma vez a falta de logística está atrapalhando. “As sementeiras ficam todas na mesma região do Estado, o que complica a entrega”, disse. (Com assessoria Aprosoja/MT)