Dois incêndios de grandes proporções, que atingiram uma área de 1.150 mil hectares de lavoura de milho, foram registrados nesta terça-feira (31) em Mato Grosso. Em Sapezal, a 476 km de Cuiabá, o fogo tomou conta de 700 hectares em quatro propriedades da região. Desses, 500 hectares eram de palhada. Nos outros 200 hectares o milho ainda faltava ser colhido. Já em Lucas do Rio Verde, a 360 km da capital, a área atingida somou 450 hectares onde estava depositada palha de milho.
Nos dois casos não foram comprovados os motivos para o início do incêndio. O que se sabe é que os focos de queimadas são normais neste período do ano e que coincidem com a entressafra da soja e colheita do milho. A situação provoca, além do prejuízo ambiental, perdas financeiras para os produtores. Além disso, reduz o potencial produtivo do solo com a perda de nutrientes.
É o caso do proprietário da fazenda atingida em Sapezal, Antônio Selso Paludo. Segundo ele, a estimativa de prejuízo é de 18 mil sacas de milho, somando R$ 400 mil. Foram consumidos pelo fogo duas motos, uma plantadeira e transformadores. Dois animais morreram no incêndio.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 5.567 focos de incêndio em Mato Grosso, no acumulado dos sete primeiros meses. O número representa um crescimento de 60% nos casos registrados no mesmo período do ano passado, quando o total chegou a 3.469 mil focos.
Diante do perigo, os produtores são orientados a tomar providências antecipadas, como construir e manter aceiros, que é uma faixa livre de vegetação onde o solo fica exposto. A redução do material combustível é também uma forma eficiente para se evitar a propagação dos incêndios. Ter locais para captação de água para ajudar no controle do fogo.
A analista de Meio Ambiente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Lucélia Avi, explica que o tempo seco propicia o início das queimadas. "Qualquer fagulha ou bituca de cigarro pode começar um incêndio". Ela enfatiza que o fogo pode ocorrer tanto em áreas onde não há produção ou em locais onde a colheita não foi iniciada.
Por ser período de colheita do milho, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) orienta ainda para que os produtores evitem colher entre 10h e 14h. Fazer revisão nos equipamentos, levar um suporte de tanque de água, pois as próprias máquinas podem em alguns casos soltar faíscas, por conta do atrito. Evitar fumar e procurar colher em direção oposta ao vento, também são algumas medidas preventivas.
Caso o produtor tenha a propriedade atingida pelo fogo deve comunicar imediatamente o Corpo de Bombeiros ou a Prefeitura Municipal e comparecer à delegacia mais próxima para registrar Boletim de Ocorrência (BO). E coletar o maior número de provas possíveis para evidenciar os danos causados pelo fogo.
Quem for flagrado ateando fogo no período de proibição será multado. O valor varia de acordo com a área atingida – de R$ 1 mil por hectare nas áreas abertas a R$ 1,5 mil por hectare nas áreas de floresta-, além de ser detido e responder por crime ambiental.
Reclamação – Para o agricultor Antônio Paludo, que já teve a propriedade atingida por incêndio em quatro ocasiões diferentes, os produtores estão conscientes da responsabilidade para evitar a queimada. "O que pesa são as leis trabalhistas. Isso porque, o horário ideal para fazer a colheita é a noite, mas neste período fica muito caro manter em atividade os funcionários". Ele explica ainda que, por não ter armazéns, acaba sendo obrigado a fazer a colheita entre 10h e 14h, período mais quente do dia e propício para a incidência de fogo acidental nas lavouras. "Tiramos do campo e já encaminhamos a produção para os compradores e isso só pode ser feito durante o dia".