Por Rui Prado*
Pela primeira vez, o setor agropecuário participou ativamente de um evento focado nas discussões ambientais. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 – foi uma oportunidade para mostrarmos ao mundo como produzir alimentos com qualidade e sustentabilidade.
O intervalo que nos separa da Eco 92 foi de muito aprendizado. Há 20 anos, enquanto nos concentrávamos na produção de alimentos – da porteira para dentro – o mundo se voltou contra nós e nos elegeu como os grandes vilões do meio ambiente, responsáveis pelas mudanças climáticas, aquecimento global, efeito estufa, contaminação dos rios e quase todo tipo de problema ambiental que surgia na pauta do dia. Neste mesmo período conseguimos melhorar a tecnologia no campo, aumentar a produtividade, incluir a questão ambiental em nossas discussões estratégicas, participando dos mais diversos fóruns nacionais e internacionais em nossa defesa. Resumindo, nestes 20 anos, apanhamos, estudamos, aprendemos, adaptamos e amadurecemos.
O que fizemos na Rio+20? O setor agropecuário brasileiro foi apresentado no estande Espaço Agro Brasil de 1.750 metros quadrados, idealizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), no Pier Mauá. No local foram apresentados modelos de agropecuária sustentável com um túnel virtual que mostrava o Projeto Biomas e uma maquete de uma propriedade modelo. Neste espaço lançamos também a proposta de criação da Área de Preservação Permanente (APP) Mundial e uma nova plataforma de serviços ambientais baseada no projeto Verde Rio desenvolvido pelo Instituto Ação Verde de Mato Grosso para recuperação das APP´s do rio Cuiabá.
Os produtores rurais de Mato Grosso estiveram no Riocentro acompanhando as discussões dos representantes oficiais das Nações. Fomos uniformizados para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde distribuímos gratuitamente espetinhos de carne e espigas de milho cozido para mostrar à população os alimentos sustentáveis produzidos em nosso estado e defender a criação de um Código Florestal Mundial.
Entendemos que preservar o meio ambiente é dever de todos os países, independentemente de suas particularidades. O Brasil é o único país do mundo que possui um Código Florestal. Somos o único país com 61% das espécies nativas resguardadas em terras indígenas, unidades de conservação da biodiversidade, APPs e Reserva Legal. Somente 30% do território brasileiro são destinados à agropecuária. E, mesmo assim, sofremos pressões ambientais dos mercados externos e críticas constantes de ONGs e formadores de opinião desinformados.
Nossa agricultura é modelo para o mundo. Amadurecemos nossas ações e vamos continuar respeitando o meio ambiente porque ele é parte essencial do nosso trabalho. Investimos em tecnologia, pesquisa e qualificação rural para produzir cada vez mais na mesma área. Estamos cumprindo nossa meta de redução do desmatamento muito antes do prazo estabelecido. Na verdade, deveríamos liderar essas discussões no mundo, pois sabemos fazer o que outros países não souberam e não podem fazer. Por que estes números e indicadores não são valorizados e reconhecidos pelos outros países e pela sociedade brasileira?
A Rio+20 terminou. Ainda é cedo para avaliarmos os seus resultados. Os ecos da edição 92 foram percebidos anos mais tarde. É preciso paciência. Os críticos devem se acalmar e sentar a mesa para discutir de forma séria e com profundidade as próximas ações. Dependeremos apenas do bom senso, do comprometimento e da pró-atividade de todos para agirmos em prol do meio ambiente. As cenas de vandalismo presenciadas no estande da CNA, promovidas ONGs e movimentos sociais, devem ser condenadas. Estes grupos, que se intitulam defensores do meio ambiente, picharam a maquete de uma propriedade referência em sustentabilidade que respeita todas as legislações ambientais. Se eles desaprovam isso, o que querem afinal?
*Rui Prado é produtor rural e presidente do Sistema Famato (ruiprado@famato.org.br).