Mato Grosso, líder na produção de grãos e fibras nesta safra, e com peso de país na oferta mundial – representando 9,2% da soja e 3,7% do algodão no mundo –, quer avançar e atingir um segundo estágio dentro do comércio mundial. Nesta nova etapa que já começou a ser percorrida a meta é incrementar a comercialização de carnes que em 2012 terá participação de 2,5% nos cortes bovinos, de 0,2% para suínos e de 0,6% para aves. O Estado quer consolidar o potencial de agregador de valor à matéria-prima ao deixar de vender grãos para comercializar carnes.
Neste processo, o grão que era exportado vira ração e alimenta suínos, bovinos confinados e aves, e então se exportam essas carnes. O processo de industrialização, mais conhecido como verticalização da produção, viabiliza a remuneração e a logística, já que o valor de uma tonelada de carne supera o de uma tonelada de grão.
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Rui Ottoni Prado, agregar valor à produção não significa apenas ampliar lucros dos produtores locais e sim trazer mais dinheiro para nossa economia, gerar mais empregos e melhorar os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de vários municípios como do Estado. “É gratificante ver que ao exportar apenas 50% da produção de soja conseguimos participar com quase 10% do mercado mundial, no entanto gostaria de ver o Estado ofertando 5% da carne bovina mundial ao invés de 9,2% da oleaginosa”.
Como explica, neste processo que ele chama de segundo estágio Mato Grosso reduziria os embarques de soja e milho para ampliar o comércio de frangos, bovinos e suínos. “Como o mundo sabe, potencial para essa transformação nós temos, no entanto esbarramos no velho problema da logística e também de marketing. O Brasil precisa aprender a vender seus produtos, assim como o Estado. Fazemos muito mal isso”, lamenta.
Prado frisa ainda que Mato Grosso tem de ser visto pelo governo federal como “um Estado solução, estratégico ao Brasil”. Um dos grandes argumentos recentes para mostrar a importância econômica mato-grossense – além do potencial exclusivo de expansão da produção sem abertura de novas áreas e que garante ao Estado peso de país na oferta mundial de soja – são os dados do Valor Bruto da Produção (VBP), elaborados pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), que apurou crescimento acima do ritmo chinês da receita agrícola e pecuária local neste ano. O VBP vai crescer 10,9% em relação ao consolidado no ano passado, passando de R$ 28,39 bilhões para R$ 31,48 bilhões. O ganho em cifras é reflexo de uma conjuntura interna e externa que congrega incremento de produção, de preços e de demanda.
A projeção de crescimento de quase 11% é quase três vezes maior do que a projeção ao Produto Interno Bruto do país (PIB) que deve superar 2011 em mais de 4% e é simplesmente o dobro da estimativa de inflação para o ano, que de acordo com dados oficiais deverá atingir até 5,82% em 2012. Se as duas análises se concretizarem o VBP mato-grossense exibirá crescimento real, descontada a inflação do período, de 5,08%, e vai cravar percentual de crescimento acima do que se espera para a economia chinesa. “Que segmento da economia nacional ou mundial já consolidado vai apresentar uma expansão neste patamar?”, sentencia Prado.
MOMENTO – O gestor do Imea, Daniel Latorraca, aponta que o bom momento registrado, especialmente neste ano, para as commodities que o Estado produz é resultado de um efeito conjuntural que tem elevado as cotações, melhorado a taxa de câmbio e das previsões de oferta e demanda mundial em desequilíbrio. “O efeito disso tudo não é outro senão preços recordes e prêmios positivos, como, por exemplo, à soja. Esse ganho não é estrutural, ou seja, é o momento, é algo circunstancial. Precisamos agregar valor, pleitear investimentos públicos em logística para que o bom momento seja reflexo de ações estruturais e essas vêm para ficar”. Ainda como explica, um negócio sadio, rentável, não pode se basear apenas no campo especulativo, e sim de maneira concreta. “A verticalização da produção agropecuária estadual é um arranjo estrutural que levará a um crescimento estrutural. Quebra o ciclo de expansão conjuntural porque é a longo prazo”, aponta.
NÚMEROS – Mato Grosso colheu na atual temporada, safra 2011/12, 21,68 milhões de toneladas, volume que representa 32,5% da produção nacional – estimada em 66,68 milhões de t – e 9,2% da mundial, que deverá somar 236,86 milhões de t, conforme dados do Imea. Com um estoque de terras de baixa produção agropecuária em cerca de 7,7 milhões de hectares que podem ser convertidos à sojicultura, Mato Grosso ganha peso de país na produção e pode, por exemplo, se transformar no terceiro produtor mundial do grão, atrás de Estados Unidos e Brasil, tirando o terceiro lugar da Argentina.