Foi a época em que o milho segunda safra poderia ser chamado de safrinha. Isso porque em meados de 2005, quando o Brasil colhia sete milhões de toneladas na segunda safra do grão, contra os 27 milhões de toneladas da primeira colheita, o cereal ainda era visto meramente como opção para complementar a renda dos produtores, que apostavam principalmente no algodão, feijão e sorgo no plantio após a primeira colheita. Hoje, o Brasil já planta uma área de milho safrinha muito próxima, a área de primeira safra. Segundo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a perspectiva para 2011/2012 é de uma produção de milho segunda safra de 25,8 milhões de toneladas, contra os 35,8 milhões de toneladas da estimativa da primeira safra deste ano. Enquanto a safra de verão deste ano se igualou aos volumes registrados no ano passado, a safrinha de milho deve crescer 20% em relação aos 21,4 milhões de toneladas de 2011. Segundo o diretor da Agroconsult, André Pessoa, três razões levaram a esse crescimento da safrinha: os altos valores pagos no ano passado, os problemas climáticos que afetaram o Sul do País, e a quebra esperada para a Argentina, que pode chegar a 7% da safra estimada. Sem contar a expectativa de estoques apertados nos Estados Unidos, que não conseguem expandir sua produção. "Esses fatores mostraram aos produtores que, se produzirem mais milho safrinha, ganharão mais", diz Pessoa.
Tanto isso é verdade que o produtor matogrossense Nelson José Vígolo, dono do Grupo Bom Jesus, de Rondonópolis, a 218 quilômetros da capital Cuiabá, resolveu ampliar sua área de milho de inverno, que já era extensa – 20 mil hectares -, para 23 mil de hectares nesta safra. "O milho está pagando bem, e a demanda está aquecida, então diminuímos a área de algodão para elevar nossos ganhos", diz Vígolo, que espera colher aproximadamente 120 mil toneladas de milho este ano, contra as 100 mil toneladas do ano passado. O exemplo de Vígolo não é um caso isolado no Estado, que já plantou 2,4 milhões de hectares de milho safrinha – 38% a mais que no ano passado. Esse montante deve elevar a produção da segunda safra em Mato Grosso para mais de 10,8 milhões de toneladas de milho, um crescimento de 50% sobre 2011, e o novo recorde de produção estadual no País. "A pressão do mercado interno será tão grande que os importadores terão de pagar muito bem para levar o milho daqui", diz Cleber Noronha, analista de mercado do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea). As perspectivas estão tão boas, com preços altos e clima favorável, que 70% da safra do Mato Grosso já foi comercializada até o mês passado. No mesmo período em 2011, apenas 32% da safra havia sido negociada.
O mesmo acontece em Goiás, na fazenda do produtor Eliezer Goulart, do Grupo Goulart. Ele não costuma vender antecipado, mas com os preços elevados não teve dúvida e negociou 15% de sua futura colheita. Goulart plantou 2,4 mil hectares de safrinha neste ano, 400 hectares a mais que no ano passado. Sua expectativa é de colher 11,5 mil toneladas, pouco mais de 10%. "Goiás inteiro resolveu ampliar a produção de milho safrinha por causa das quebras que vimos", diz Goulart. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), o Estado deve produzir nesta safra mais de 3,1 milhões de toneladas – 3,6% a mais que em 2011 – em uma área de 591 mil hectares, que supera em 10% a área anterior. "Se tudo continuar bem, os produtores terão margens maiores este ano com a venda de milho", diz Goulart, que conseguiu até R$ 20 por saca em 2012 com as vendas antecipadas, valor 17% maior, que o obtido no mesmo período do ano passado. Com isso, o Estado já é o quarto maior produtor de milho safrinha, atrás apenas do Paraná e Mato Grosso do Sul, que devem registrar uma safra de 6,7 milhões de toneladas e 3,9 milhões de toneladas, respectivamente.