Quinto maior produtor de carne suína no Brasil, Mato Grosso tem um prejuízo de R$ 11 milhões ao mês pelo seu custo de produção pelo quilo do animal ser superior ao valor pago pelos frigoríficos. Em 10 anos esta é a segunda crise vivida pelos mesmos motivos. Hoje, enquanto o produtor gasta R$ 2,20, tem sua remuneração em apenas R$ 1,70. Segundo a Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), 170 mil cabeças são abatidas por mês e a remuneração ideal seria ao menos R$ 2,50 kg do animal vivo. A cadeia da sui-nocultura frisa que crise vivida a mais de um ano agrava-se cada vez mais quando pedem ajuda ao governo de Mato Grosso com a redução dos tributos e da energia elétrica e este, por sua vez, aumenta os valores. O embargo da Rússia é outro fator prejudicial. Os dados foram revelados ontem durante reunião na sede da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), em Cuiabá, para debater os rumos da atividade.
O rebanho atual é de 1,5 milhão de cabeças, sendo 120 mil matrizes. Em 2001 eram apenas 22 mil matrizes. De acordo com o presidente da Acrismat, Paulo Lucion, o Estado conta hoje com 280 produtores tecnificados, destes, 50% são independentes. "Estes são os mais prejudicados, pois para os integrados o risco é menor por terem uma agroindústria por trás. O perfil do Estado é de produtor independente".
Exemplo
O presidente da Acrismat comenta que a carne suína dá lucro, todavia o produtor não o está vendo. "Em 2002 passamos pela mesma situação. Gastamos entre R$ 2,20 e R$ 2,30 por quilo com custo de produção. 70% são com a alimentação do animal, destes 80% referem-se aos gastos com milho e farelo de soja. Pelo quilo do animal vivo recebemos entre R$ 1,60 a R$ 1,70 dos frigoríficos, um prejuízo de cerca de R$ 0,70. Como abatemos 170 mil cabeças ao mês e o animal vai para abate com 100 quilos, nosso prejuízo chega a R$ 11 milhões aproximadamente. A remuneração deveria ser ao menos R$ 2,50".
Hoje, segundo dados da entidade representante dos suinocultores, cerca de 80% da carne produzida vai para exportação e 20% é consumida internamente. Lucion comenta, ainda, que todas às vezes que os produtores vão ao encontro do governo do Estado pedir "ajuda" com a redução do ICMS, demais tributos e a volta do benefício de 50% de desconto na energia elétrica, que lhes foi retirado recentemente, recebem de volta "novos aumentos".
"Recentemente fomos comprar milho estacado desde 2008 na Conab em Mato Grosso e tivemos que pagar mais 17% de ICMS imposto pelo governo do Estado. No fim a saca que saia por R$ 18 saiu por R$ 23. Muitos produtores estão devendo a Conab e outros nem compraram, pois o milho 'velho' estava saindo pelo preço de venda hoje. A Conab inclusive está nos ajudando a buscar a isenção novamente, como a lei determina".
Segundo o diretor-executivo da Acrismat, Custódio Rodrigues, os governos do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina zeraram seus ICMS e tributos para amenizar a crise de seus produtores. A suinocultura emprega hoje 7,5 mil pessoas diretamente e cerca de 20 mil indiretas. Lucion comenta que as demissões estão sendo inevitáveis por conta das dificuldades. "Quem tem cinco funcionários ao menos um é demitido".