Por Rui Prado*
Tal qual a formiga na fábula de Esopo, o setor de produção rural de Mato Grosso passou os últimos 14 anos trabalhando, sem muito tempo para "cantar". Nossa produção agrícola se ampliou a ponto de sermos hoje considerados a "fazenda" do mundo, principalmente por aliarmos técnicas sustentáveis com altos índices de produtividade. E ainda temos como ampliar nossa produção de alimentos – de forma inteligente e ambientalmente correta: reaproveitando áreas de pastagens pouco eficientes que podem ser convertidas para o plantio de grãos.
Chegamos a 2011 com uma produção de alimentos sustentável e consolidada: usamos apenas 36% do território mato-grossense para gerar grãos, proteína vegetal e carnes, que atendem tanto o mercado interno quanto o externo. Atualmente 64% da área do Estado está intacta e o produtor rural responde por mais de 65% deste território preservado.
O avanço da produção sustentável e com níveis de eficiência globalmente admirados acarretou uma outra mudança nos últimos 14 anos: a melhoria na qualidade de vida da população. Principalmente em cidades cuja base econômica é a atividade agropecuária, verificamos o aperfeiçoamento de aparatos públicos de atendimento na área de saúde e educação, e hoje existe uma correlação muito grande entre a produção rural e os melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) em Mato Grosso.
Além disso, os resultados da produção rural em Mato Grosso contribuíram e muito para atingirmos um patamar de preços de alimentos acessível à população. Esta talvez seja a maior revolução vivida por nós nestes últimos 14 anos.
Uma outra, que ainda merece maior divulgação, também ocorreu nos últimos anos em nosso Estado. O avanço das lavouras de soja e milho contribuiu para a ampliação da malha agroindustrial. Mais do que vender soja em grão, passamos a ofertar ao mundo carnes de diferentes tipos com qualidades nutritivas almejadas pelos maiores produtores mundiais.
Não deixamos de atender os mercados que buscam soja e milho in natura, mas conseguimos ampliar nossa produção a ponto de ver uma mudança ano a ano em nossas exportações: o aumento das vendas de produtos industrializados ou processados, como óleo e farelo de soja. Este é o primeiro sinal de que a industrialização efetivamente começou em Mato Grosso.
Outra conquista obtida pelo setor foi a abertura para o diálogo com a sociedade em relação a temas considerados até então conflituosos: a questão fundiária, as regras ambientais, a certificação de produtos, as exigências sanitárias. O setor amadureceu e sentou à mesa para conversar.
Ainda assim vislumbramos muito mais para os próximos 14 anos. Um dos desafios será ampliarmos nossos investimentos em tecnologia de produção, para que possamos atender às demandas crescentes dos mercados, mantendo nossa característica de sustentabilidade.
O produtor rural precisa também adotar ferramentas de gestão profissional, com visão empreendedora e foco na qualificação de mão de obra. O estabelecimento de um ambiente de negócios sadio é outra tendência que se impõe não apenas ao produtor rural, mas também aos governos, que definem a política agropecuária, e à sociedade civil organizada.
Muitos desafios, muitas conquistas. O horizonte é amplo, e estamos prontos para somar mais 14 anos de bons resultados para a sociedade.
*Artigo publicado na revista RDM de dezembro de 2011