As ocorrências de ferrugem asiática, doença que em dez anos causou perda de US$ 19,7 bilhões às plantações de soja no Brasil, diminuíram cerca de 70% na última safra – em relação à anterior. A incidência do fungo caiu para o menor nível de proliferação desde 2004/2005, quando sua presença passou a ser monitorada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Na safra atual, a ferrugem asiática incide em 13 pontos produtivos: concentra-se no Paraná (nove), mas também atinge Goiás (três) e o Distrito Federal (um). "Neste momento, o clima tende a se regularizar e as chuvas começam a ficar mais intensas, criando um ambiente propício para a propagação do fungo", afirma Luiz Nery Ribas, gerente técnico da Associação dos Produtores de Soja do Estado do Mato Grosso (Aprosoja-MT).
Segundo o especialista, os produtores não devem postergar a utilização de fungicidas. A diminuição da doença nas plantações de soja está relacionada às ações adotadas pelos próprios cultivadores, como a aquisição de sementes mais resistentes e o respeito pelo período de vazio sanitário (90 dias entre 15 de junho e 15 de setembro).
"A presença da ferrugem é esperada e pode ser combatida", afirma Glauber Silveira da Silva, que deixou a presidência da Aprosoja-MT para assumir a associação homônima que representa a produção do País.
O fungo pode fazer com que a produtividade da soja caia de 3,5 para 1,5 tonelada por hectare, de acordo com o Instituto de Defesa Agropecuária (Indea). O consultor técnico José Tadashi Yorinari, da Tadashi Agro, explica que o controle da ferrugem asiática é feito com base 95% química.
A gravidade do problema fez com que surgissem iniciativas conjuntas para enfrentá-lo. Há cinco anos, entidades ligadas à produção da soja, incluindo a Embrapa, agem contra a proliferação da ferrugem, por meio do Consórcio Antiferrugem.
No Mato Grosso, maior estado sojicultor do Brasil, a doença já causou perdas de US$ 9,2 bilhões, de acordo com a Aprosoja-MT. O montante representa quase 28% do Valor Bruto da Produção (VBP) agrícola mato-grossense e leva em conta perdas com produtividade, produtos químicos e arrecadação de impostos. Contudo, na última safra, o estado confirmou apenas 50 focos da praga, volume que é 91% menor do que o registrado na temporada anterior, quando havia 600 pontos com a doença.
Outras pragas
O prejuízo é ainda maior se forem consideradas outras doenças características da sojicultura, como nematóides e mancha-alvo. A nematóide de cisto, por exemplo, provoca perdas de até 40% à produtividade do grão. Ainda assim, a ferrugem asiática é a responsável pelos prejuízos mais expressivos, pois é a doença que gera mais despesas com fungicidas.
"Hoje, as nematóides [das lesões radiculares, de galhas e de cisto] são o maior fator de redução da produção de soja", disse o consultor Yorinari, destacando práticas para evitá-las: "Importante é ter a soja espaçada, bem acabada, porque isso facilita a aplicação do fungicida e o controle".
Presente em todos os estados produtores de soja no Brasil, a nematóide é de difícil erradicação e vem de larvas que permanecem no solo por até oito anos. Nos Estados Unidos causa prejuízos anuais de R$ 500 milhões. "As práticas [fungicidas] são para manter o problema em uma proporção bem baixa nas lavouras", acrescenta Yorinari.
Ribas, da Aprosoja-MT, lista alternativas para se evitar a proliferação de fungos indesejados nas plantações de soja: monitorar com frequência as lavouras, realizar um manejo correto, a partir do conhecimento das características e causas das doenças, e investir em variedades mais resistentes e em plantas de entressafra, com menores fatores de reprodução de doenças.
Especificamente sobre a mancha-alvo, Yorinari diz que, "como é um fungo que sobrevive na palhada, a primeira coisa a fazer é monitorar a lavoura e preparar o controle químico, além de usar cultivares mais resistentes".