Inovação no setor agropecuário mato-grossense pode estar na utilização de biodigestores. Tecnologia foi debatida nesta terça-feira (22) com produtores rurais e representantes de instituições públicas e privadas, no auditório da Federação da Agricultura e Pecuária (Famato).
Equipamentos fazem a conversão dos resíduos gerados por animais em energia térmica ou elétrica, após obtenção do gás metano, gerado na degradação dos dejetos. Além disso, a matéria orgânica pode ser utilizada como fertilizante nas plantações, após liberação do gás, gerando economia de até 50% na compra desses produtos. Alternativa é considerada economicamente viável tanto pelo consumo de energia quanto de adubo, dizem pesquisadores, reduzindo também o impacto sobre as florestas naturais, por evitar a queima de madeira.
Para Mato Grosso, as perspectivas são promissoras, considerando as vantagens do clima quente (que favorece a decomposição dos resíduos orgânicos e a produção de biogás) e as atividades produtivas como suinocultura, avicultura e confinamento bovino, sendo possível misturar os dejetos dos animais. Atualmente, os estados do Sul lideram a utilização de biodigestores, conforme o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Concórdia (SC), Airton Kunz.
Segundo ele, cada animal pode produzir entre 0,2 e 0,3 metros cúbicos de biogás. Explica ainda que o biogás tem uma concentração de até 80% de metano e 35% de gás carbônico (CO2). Se retirado o CO2, o biogás pode ser utilizado como o gás natural veicular (GNV), atualmente importado da Bolívia. “A produção, purificação e utilização do biogás está começando a expandir no Brasil”.
Gerente do Centro de Estudos do Biogás Fundação Parque Tecnológico Itaipu, Ansberto do Passo Neto, explica que a energia gerada pelo biogás pode ser vendida no Sistema Interligado Nacional (SIN), se obtida em maior escala. Mas, mesmo quando produzida em menor volume, é vantajosa por representar economia no consumo de energia, uma vez que o valor de compra da energia, pago pelos consumidores, é maior que o valor de venda do produto. Neto explica que em Foz do Iguaçu (PR), a empresa responsável pelo abastecimento de água faz o reaproveitamento do esgoto sanitário para gerar energia.
Financiamento – Investimento nos equipamentos pode variar de acordo com a tecnologia, mas os produtores podem recorrer a linhas de crédito oficiais, como pelo programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e Finame. Sistema pode ser implantado em 3 meses. Para Kunz, antes de decidir pelo biodigestor, o produtor precisa avaliar as necessidades de consumo de energia na propriedade.
Diretor da Associação de Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat) e presidente da Coopermutum, Valdomir Natal Ottonelli, diz que 5 propriedades do município implantaram biogestores há 6 anos. Finalidade era minimizar os impactos ambientais provocados pelos dejetos da suinocultura. “Mas, com a geração de energia elétrica, passamos a não depender da compra de energia e, na sequência, agregamos o uso do biofertilizantes”.
De acordo com o assessor técnico da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Sedraf), Paulo Bilego, a intenção é discutir com a sociedade mecanismos para tornar a implantação de biodigestores no Estado mais viável, expandindo a técnica inclusive para pequenas propriedades.