Produtores mato-grossenses apostaram em uma safra recorde comercializada a preços elevados, mas que começa a sinalizar resultados aquém do esperado para este ciclo produtivo. Crise internacional afeta as vendas futuras, pressionando os preços e diminuindo as chances de bons negócios para aqueles que ainda não travaram a produção. Apreensão aumentará com o início da colheita da soja, quando a safra da oleaginosa precisará ser removida dos armazéns para abrigar o milho safrinha.
Preços menores desaceleram as negociações e o escoamento da produção podendo acarretar falta de espaço para abrigar a safra de soja e milho, estimada em 28,18 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), conforme segundo prognóstico. Comercialização da safra 2011/12 alcançava, até o fechamento de outubro, 52,5% da produção de soja e 46,6% do milho no Estado, aponta o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Quanto aos investimentos para a safra atual, números apurados pelo Sistema Cooperativa de Crédito (Sicredi) confirmam o incremento em todas as linhas de financiamento até setembro. Crédito rural aumentou 29% nos 9 primeiros meses deste ano, contra igual período do ano passado, somando R$ 815,826 milhões, sendo R$ 183,087 milhões acima do montante registrado para 2010. Para investimento foram liberados R$ 158,888 milhões em 2011, 16% maior sobre os R$ 136,749 milhões do ano anterior.
Para custeio, o avanço nas liberações chegou a 12%, totalizando R$ 378,754 milhões entre janeiro e setembro deste ano, contra R$ 338,937 milhões no ano passado. Na comercialização foram aplicados pelos cooperados R$ 12,805 milhões, 67% a mais que em 2010, quando alcançou R$ 7,676 milhões. Financiamentos para o agronegócio pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), caracterizado por taxas mais acessíveis e prazos mais alongados, aumentaram 82% em Mato Grosso, subindo de R$ 139,069 milhões entre janeiro e setembro do ano passado para R$ 252,662 milhões em 2011, liberados pelo Sicredi.
Contratações do FCO Rural acompanharam a curva ascendente no período, chegando a R$ 12,060 milhões neste ano, 46% acima de 2010, quando somou R$ 8,270 milhões. Gerente de Desenvolvimento de Negócios da central Sicredi em Mato Grosso, Pará e Rondônia, Danilo Vicentim, comenta que os produtores investiram mais este ano em sementes e maquinários. "E a busca do crédito para comercialização aumenta quando os preços estão baixos, não é o momento para vender, mas o produtor tem custos da colheita para pagar, por isso faz financiamento e aguarda o melhor momento para negociar a produção".
Confirmação – Produtor de soja e milho no Médio-Norte mato-grossense, o vice-presidente do Sindicato Rural de Sinop, Antônio Galvan, confirma que para o ciclo produtivo 2011/2012 houve mais investimentos porque os produtores estavam "capitalizados", após uma safra com os preços das commodities em alta. Para esta safra, intenção de Galvan é cultivar 2,5 mil hectares de soja, reservando 35% da área para o milho. "O produtor está preocupado, esperava preços melhores, mas houve uma inversão. As commodities começaram a cair e os fertilizantes a subir".
Outro receio é quanto à ocupação dos armazéns com a soja. "Vamos ter uma safra bem maior e se o mercado não reagir, o espaço nos armazéns vai ficar comprometido". Com preços menores, as empresas compradoras demoram mais para remover os grãos, por não compensar o gasto com o frete. "E vai ser preciso retirar uns 60% da soja para abrigar o milho".
Também sojicultor e presidente do Sindicato Rural de Diamantino, Milton Criveleto, diz que o custo dos 1,3 mil hectares de soja e milho que irá plantar nesta safra ficará equiparado ao da última. "Mas isso porque comprei as sementes e fertilizantes bem antes, durante a colheita da soja ainda". Outra precaução para garantir preços melhores foi a negociação antecipada de 68% da safra de soja. "Acho que os produtores podem talvez ter mais problema com a safrinha, porque plantam soja mais cedo e acabam comprando semente e fertilizantes mais caros para o plantio do milho".
Quanto aos preços de comercialização do milho, o analista de mercado Antonio Tonietto avalia que não haverá oscilações. Na região de Sinop, o cereal mantém estabilidade, sendo negociado a R$ 17 (saca de 60 kg) para 2012. Preço médio da saca de soja oscila entre R$ 35 e R$ 40. "Acho que o produtor está reclamando do que poderia ter vendido, mas não deve haver defasagem no preço mesmo para aqueles que ainda não venderam".
Superintendente da Federação da Agricultura e Pecuária em Mato Grosso (Famato), Seneri Paludo, avalia que não há risco de rentabilidade negativa para os produtores, apenas menor, se comparada com os resultados da última safra. Principal preocupação quanto ao custeio é que alguns insumos, como frete e mão de obra, não podem ser compensados em negociações pré-fixadas. "Então o produtor espera para fazer frente a esses custos, entra no mercado esperando retorno e não obtém". Nos últimos 2 meses, com agravamento da crise na Europa, por exemplo, os preços do bushel de soja reduziram cerca de 20%.
Outro aspecto positivo para manutenção dos preços e das vendas, diz o especialista em agronegócio, Amado de Oliveira Filho, é a que o principal comprador da soja mato-grossense, a China, confirmou interesse em expandir a aquisição de alimentos e não deve ser afetada pela crise econômica. Neste ano, as exportações estaduais para aquele país aumentaram 29,82%, movimentando US$ 2,957 bilhões entre janeiro e outubro. "A China está em uma situação mais confortável que o Brasil. Tem mais reservas financeiras". Responsável por adquirir cerca de 62% da soja mato-grossense, Oliveira acredita que a China irá se manter compradora.