Anualmente, Mato Grosso desembolsa cerca de R$ 300 milhões para aquisição de 118 mil toneladas de farinha de trigo vindas de outros estados brasileiros como também da Argentina. As cifras injetadas fora do Estado são interpretadas como uma espécie de “evasão” de divisas, já que a pujança agrícola estadual poderia comportar a triticultura e “gerar mais renda ao mato-grossense”, aponta o pesquisador de trigo da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer/MT), Hortêncio Paro.
A matéria-prima para produção de massas, como pão, pizza e macarrão está tão presente no cotidiano da população – tanto quanto o arroz e o feijão – que sua importância chega a passar despercebida. Enquanto a demanda estadual é de aproximadamente 118 mil toneladas, o Estado produziu apenas 846 toneladas neste ano. Em função desta disparidade, o mato-grossense fica bastante suscetível às oscilações mercadológicas (e até políticas) do trigo.
Ontem, data em que se comemorou o Dia Nacional do Trigo, Paro disse que a triticultura está renascendo no Estado e ganhando maior atenção em nível nacional. “Agora temos até uma data”, comemora. Ele lembra que antes da divisão do Estado, ainda na década de 70, a região de Alto Taquari, no sul-mato-grossense, cultivava variedades de sequeiro, mas como reflexo do mercado e da falta de logística, o plantio do trigo foi sendo abandonado e agora reinicia a produção do outro lado de Mato Grosso, em Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao norte de Cuiabá), cidade que contabiliza recordes na produção de soja precoce e de milho segunda safra. “Em 2011 colhemos a segunda safra daquela região e a produção obtida por meio de pivot (irrigada) se mostrou de excelente qualidade, teve preços próximos aos da soja e foi consumida dentro do Estado”, detalha Paro.
Neste ano foram cultivados sob pivot 240 hectares de maio a setembro, praticamente durante o período do Vazio Sanitário da soja, quando o plantio do grão fica proibido em Mato Grosso. “A produtividade foi de cerca de 3,6 mil quilos por hectare, em torno de 60 sacas, o que contabilizou uma safra de 846 toneladas que foram adquiridas pelo Moinho Belarina, do Distrito Industrial de Cuiabá”.
Existem no Estado cerca de 40 mil hectares com pivot, área atualmente utilizada para o plantio de feijão e algodão e que poderia dar espaço ao trigo, “já que na modalidade irrigado não existem doenças e os insetos mais comuns como pulgão e mosca branca podem ser controlados com inseticida”.
Neste ano a saca do trigo mato-grossense foi comercializada por até R$ 39,50, enquanto que no Sul do país, maior produtor nacional, a saca esteve cotada entre R$ 28 a R$ 29. “Esses R$ 10 a mais é a diferença – desta vez em favor do produtor – entre o que seria gasto com frete (se viesse do Sul, por exemplo) e o plus pela qualidade do trigo. As perspectivas para 2012 apontam para manutenção deste cenário”.
Na safra 2011, conforme Paro, a rentabilidade do triticultor foi de cerca de R$ 570 por hectare, já que o custo de produção foi de R$ 1,8 mil e cada saca teve cotação de R$ 39,50, o que gerou renda bruta de R$ 2.370 (60 sacas por hectare x R$ 39,50) que menos o custo de produção de R$ 1,8 mil, gerou lucro de R$ 570 por hectare. “É uma cultura bastante promissora por causa de seu retorno ao produtor”, reitera o pesquisador.
Além do retorno financeiro, Paro conta que o trigo é tido como uma excelente opção de rotação de cultura por ser uma gramínea. “Sob pivot, além de garantir um manejo adequado do solo, o trigo gera um intervalo rentável ao produtor entre a safra de soja, que é sucedida da segunda safra de milho. Antes de dar início à nova safra de soja, ele planta o trigo, a terra não fica parada e ainda gera receita”.
Para coibir a “evasão” de divisas, Paro conta que para 2012, a área plantada com trigo será ampliada para 350 hectares sob pivot. Duzentos e cinqüenta serão cultivados em Lucas do Rio Verde e outros 100 hectares podem ser semeados em Nova Mutum (269 quilômetros ao norte de Cuiabá).