"Excelente". Assim traduziu a comitiva formada por representantes da Famato, Senar e Sindicatos Rurais que participou da Missão Técnica aos Estados Unidos. Após dez dias de viagem pelas fazendas norte-americanas, percorrendo 4.842 quilômetros via terrestre e aérea, o grupo teve a oportunidade de conhecer de perto o sistema de produção da pecuária de corte e de leite, trocar experiências e trazer informações que poderão ser aproveitadas na pecuária mato-grossense.
A comitiva, composta por 20 pessoas, visitou quatro estados norte-americanos: Nebraska, Dakota do Sul, Washington D.C. e Missouri. Além das fazendas, o grupo conheceu centros de confinamento, lojas de equipamentos e insumos agrícolas e pecuários, revenda de fabricantes, casas de leilão de gado, o Farm Bureau (similar à CNA brasileira) e o USDA (Departamento de Agricultura e Pecuária dos Estados Unidos).
"O resultado da viagem foi muito bom. A gente conseguiu ver na prática como a pecuária norte-americana é operacionalizada. Agora, cabe a nós disseminar aos produtores de Mato Grosso o que aprendemos lá", afirmou o diretor executivo do Sistema Famato, Seneri Paludo. Segundo ele, os pecuaristas norte-americanos são orientados pelo “mercado”, trabalhando muito a relação entre produtor, órgãos governamentais, frigoríficos e sociedade.
"Nós notamos que a cadeia da pecuária de lá possui um grande nível de maturidade e nós precisamos implantar isso no mercado brasileiro também. Além disso, a relação com o frigorífico é mais próxima do que a que temos aqui. Produtores e frigoríficos entendem que são parte de uma mesma cadeia", observou Paludo.
A pecuária nos Estados Unidos é bastante tecnificada, e a cada ano o rebanho norte-americano vem diminuindo. "Por conta disso, eles investem cada vez mais em tecnologia de produção", observa Paludo.
O país possui mais de 1 milhão de fazendas, ranchos e empresas e cerca de 800 mil criadores de gado de corte. O confinamento é o sistema de produção mais utilizado pelos americanos, resultando em ganhos médios diários de 1.100 a 1.800 gramas de peso por animal, considerando-se uma dieta aproximada de 2,7 quilos de alimentação (matéria seca) por quilo de ganho de peso.
Outro ponto que chamou a atenção da comitiva do Sistema Famato/Senar foi o nível de qualificação dos pecuaristas norte-americanos. "Como as fazendas são altamente tecnificadas, os pecuaristas são especializados", comenta o gerente de Aprendizagem Rural do Senar-MT, Marciel Becker. "Verificamos que nos Estados Unidos a tecnologia é gerada através de uma necessidade: a escassez de mão de obra. Quase 100% das propriedades possuem sistema de armazenamento, sistema de irrigação utilizando pivô central, e isso aqui no Brasil é extremamente caro. Nós temos mão de obra. O que precisamos é melhorar a educação profissional no campo. E este é o papel do Senar", comparou Becker.
Boa parte dos pecuaristas norte-americanos possui nível de escolaridade superior ou ensino técnico profissionalizante, e muitos investem na capacitação de seus funcionários.
Em Nebraska, a comitiva visitou uma universidade onde o sistema de ensino é diferenciado. Conforme Becker, os professores são obrigados a disponibilizar 20% do tempo do trabalho à extensão rural. "A universidade demonstrou interesse em fazer convênios com a UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), a Unemat (Universidade de Mato Grosso) e com o próprio Sistema Famato para, no futuro, os filhos dos produtores mato-grossenses fazerem graduação e pós-graduação nos Estados Unidos", revelou Becker.
Desafios – Como em todo país, os produtores também enfrentam algumas dificuldades nos Estados Unidos. Atualmente, os pecuaristas norte-americanos têm problemas para destinar os dejetos produzidos nos confinamentos de gado de corte, de leite, suínos e aves.
"Eles possuem uma instituição, semelhante ao Ibama no Brasil, que está fechando o cerco nesses confinamentos, que produzem três vezes mais dejetos do que a população americana. Por conta disso, os pecuaristas estão tendo que fazer investimentos nas propriedades para dar o correto destino aos dejetos e isso, consequentemente, aumenta os custos de produção", informou o diretor de Relações Institucionais do Sistema Famato, Rogério Romanini.
Romanini acrescentou que o preço da ração é outra dificuldade vivida pelos pecuaristas dos Estados Unidos. "Mais de 90% dos bois norte-americanos são terminados em confinamento, e o preço da ração é diretamente proporcional à rentabilidade que o pecuarista vai ter. O preço do milho está subindo a patamares maiores do que vimos historicamente, e isso tem feito com que o risco administrativo do negócio esteja muito alto", explicou Romanini.
Para acompanhar os detalhes da viagem, o Sistema Famato criou o "Blog da Famato" (www.blogdafamato.wordpress.com).
A Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso) é a entidade que reúne e representa os sindicatos rurais de todo o Estado. Junto com o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) e o Senar-MT (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso), forma o Sistema Famato.