A onda de alta que fez da economia do cinturão agrícola dos EUA uma das mais fortes no país ainda tem fôlego de sobra, mas o caminho vem ficando mais esburacado.
Os preços nas alturas ajudaram a elevar os lucros totais do setor para os maiores patamares desde 1973, ajustados pela inflação, e também contribuíram para alimentar forças de mercado que, segundo economistas, poderiam tirar um pouco do oxigênio dos altos ganhos colhidos por muitos agricultores de GRÃOS do Meio-Oeste. "Vem sendo uma boa sequência para os agricultores", disse o economista Chad Hart, da Iowa State University. "Mas provavelmente começa a chegar ao fim."
Agricultores, como Randy Spronk, de Edgerton, Minnesota, que cultiva pouco menos de mil hectares e produz 125 mil porcos por ano, não sabem até quando os bons tempos podem durar. Neste ano, ele viu os melhores preços de sua carreira para o milho e carne suína. Embora seus lucros com o milho tenham sido os maiores na história, o retorno com os suínos ficou abaixo do normal, afetado pelo custo de alimentá-los com o milho, muito caro. "A economia agrícola está tornando-se mais volátil", disse o fazendeiro de 51 anos. Spronk investiu quase US$ 500 mil em novos depósitos de GRÃOS nos últimos anos.
A continuidade dos bons tempos agrícolas teria grandes implicações para a região dos EUA, onde ajudou a isolar vários Estados do mau momento econômico que levou o índice de desemprego do país para 9,1%.
Dakota do Norte, Estado também beneficiado pelos altos preços do petróleo, tinha desemprego de 3,5% em setembro, o menor no país, seguido por Nebraska, com 4,2%, e Dakota do Sul, com 4,6%, segundo a Agência de Estatísticas Trabalhistas (BLS, na sigla em inglês) dos EUA. Em Iowa, onde o desemprego está em 6%, a Deere & Co. criou 1,7 mil empregos em suas fábricas de máquinas agrícolas nos últimos dois anos, aumento de 25% no pessoal.
Embora a renda da família americana média venha caindo há três anos, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) prevê alta de 31% na renda agrícola sobre 2010, para US$ 103,6 bilhões este ano.
Os agricultores vêm gastando seus lucros em tratores, instalações e mais terras, cujos preços estão em alta, ao contrário dos preços residenciais urbanos. Em Iowa e Illinois, os valores dos terrenos agrícolas dobraram nos últimos dez anos, segundo o Federal Reserve de Chicago. No segundo trimestre, houve altas de 20% e 19%, respectivamente, em comparação ao mesmo período de 2010, segundo o Fed regional.
Os preços que os agricultores recebem pelo milho e soja dobraram em relação ao início de 2006. Desde agosto, contudo, houve queda de 16% e operadores do mercado futuro não preveem para 2012 uma volta aos níveis do terceiro trimestre – mesmo com os produtores de sementes, adubos e aditivos químicos planejando elevar os preços cobrados dos agricultores. "A oferta limitada sugere que o boom agrícola poderia continuar por outro ano", disse o economista Jason Henderson, do Fed de Kansas City. "Mas a história muda de fazenda a fazenda."
A demanda por GRÃOS arrefece porque, para usuários como a indústria de aves, os custos estão muito altos. A combinação de preços altos do trigo e melhora nas condições climáticas para agricultores no Mar Negro desencadeou aumento nas exportações de trigo mais barato da Rússia, deixando os fazendeiros americanos fora de alguns dos mercados que vinham sustentando suas exportações. Está em queda até o apetite da indústria do etanol por milho, que subiu consistentemente depois da imposição de regras federais de uso do combustível.
Os preços caíram na temporada de colheita do outono no EUA por receio de que a crise da dívida europeia possa fortalecer o dólar a ponto de atrapalhar as exportações americanas para o continente, que absorve mais de 30% das vendas agrícolas do país. Os criadores de bovinos e suínos se beneficiaram do preço recorde em vários momentos do ano, mas também sentiram o custo dos GRÃOS para rações, em especial na região das Planícies do Sul, onde as pastagens estão secas para o gado.
A seca provocou uma debandada de gado ainda jovem para a fazenda de confinamento administrada por Todd Gorman em Meade, Kansas, que passou a usar fontes mais baratas de ração que o milho, como a palha. Ele teme, porém, ver uma desaceleração de seus negócios à medida que os pecuaristas encolherem seus rebanhos. "Todos os que têm vacas estão encolhendo", afirmou.
O que deve manter o cinturão agrícola em boa situação por algum tempo é, em parte, a relação com as economias asiáticas de alto crescimento, como a China. O país deverá importar US$ 19 bilhões em bens agrícolas dos EUA no ano que se encerra em 30 de setembro de 2012, 27% a mais do que nos 12 meses anteriores, de acordo com o USDA. Com esses números, a China empataria com o Canadá como maior importador de bens agrícolas dos EUA.
Não há bolhas de produção no mercado agrícola americano sendo detectadas, mas não é por falta de tentativa. Em 2011, a área cultivada de milho foi a 2ª maior desde a Segunda Guerra Mundial. As enchentes da primavera americana e o verão mais quente desde 1936, porém, contiveram a produção, que tinha potencial para ser a maior na história, mas deverá ser a quarta. Como resultado, o estoque de milho nos EUA em agosto de 2012, antes da próxima colheita, deverá cair para o menor nível desde meados dos anos 90. (Tradução de Sabino Ahumada)