Casado com Cátia Boger Prado e pai de três filhos, Rui Carlos Ottoni Prado é natural de Campo Grande (MS), onde formou-se em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Ainda na faculdade, mostrou sua vocação pela liderança política ao presidir por dois mandatos o Centro Acadêmico. Logo depois de formado, mudou-se em 1986 para Campo Novo do Parecis (MT), berço de sua trajetória profissional no agronegócio mato-grossense.
Em seu currículo, soma experiências em importantes entidades representativas do setor rural. Foi presidente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis (1997-2000 e 2000-2003), da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja/2005-2007), da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil/2007-2010) e do Instituto Ação Verde (2008 e 2010-2011).
Em 2010, chegou à presidência de uma das entidades com maior representação classista do país: a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato) – função que exerce atualmente. Preside também o Fundo Emergencial de Saúde Animal de Mato Grosso (Fesa), o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o Conselho Deliberativo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar/MT) e a Câmara Setorial da Soja no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Além disso, é membro titular do Conselho Deliberativo do Sebrae/MT.
Nessa entrevista, Rui Prado, produtor de soja, milho, girassol, pipoca e engorda de bovinos no sistema de integração agricultura-pecuária, fala sobre as principais ações nos primeiros meses de sua gestão à frente da federação, dos projetos para 2012 e sobre política.
Com pouco mais de um ano à frente da Famato já é possível fazer um balanço das principais ações neste seu primeiro mandato?
Rui Prado – Sim. Nestes 16 meses de efetivo mandato, já tivemos várias ações em prol do setor rural, como a mobilização que lideramos para a aprovação do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados. Em abril, reunimos cerca de mil produtores do Estado e partimos para Brasília, onde participamos da grande mobilização nacional capitaneada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e mostramos aos parlamentares nosso anseio pela reforma na legislação florestal. Durante várias semanas acompanhamos de perto a votação no Congresso Nacional. Iniciativa esta que culminou em um bom projeto, relatado pelo deputado Aldo Rebelo e aprovado pela grande maioria de seus colegas de casa, em que prevê a segurança necessária para que os produtores possam continuar trabalhando com tranquilidade e aliando a produção e preservação ambiental.
Outra grande conquista foi a suspensão da cobrança da Taxa de Segurança Contra Incêndio (TACIN) aos produtores rurais. Após inúmeras reuniões com o Governo do Estado, explicamos nosso posicionamento: entendemos que o Corpo de Bombeiros presta um relevante serviço à população, mas não consegue atender os focos de incêndio nas propriedades rurais. O Estado entendeu essa dificuldade e atendeu a esse pleito.
Além de buscar esse entendimento, fizemos um grande esforço por meio de uma campanha de conscientização junto aos produtores para monitorar os incêndios nas propriedades e percebemos que o volume de incêndios este ano foi bem menor que os registrados nos anos anteriores. Conquistamos também a isenção, decidida pela justiça, do Imposto Sobre Circulação de Produtos e Serviços (ICMS) cobrado sobre o frete para produtos de exportação, porque se tornou claro que a soja e algodão muitas vezes são enviados diretamente aos países comprados, sendo desnecessária a cobrança do imposto.
Agora, mais recentemente, tivemos a divulgação de um verdadeiro Raio-X da pecuária do estado – a atividade rural que envolve o maior número de produtores. Por meio do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), trouxemos à tona fatos importantes que vão auxiliar os futuros investimentos do setor. Para se ter uma ideia da importância desse estudo, recentemente o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) lançou uma linha de crédito específica para a pecuária com prazos de pagamentos mais longos. Esta era uma reivindicação antiga do setor que usou como argumento os dados dessa publicação. Portanto, a Famato hoje está trabalhando muito forte na representação da classe para proporcionar aos produtores e a todos os cidadãos do estado envolvidos com o campo uma maior qualidade de vida.
Sobre o Código Florestal: o projeto ainda tem que ser aprovado no Senado. Como tem sido a atuação do setor nesta etapa?
Rui Prado – Estamos conversando com os senadores de Mato Grosso e disponibilizando dados sobre o Estado. Estamos empenhados em contribuir também com o Senado no debate, pois queremos que as regras do novo Código Florestal sejam claras e acreditamos que, com nossas informações, as discussões desse projeto serão ainda mais valorizadas. Temos um novo componente caminhando bem no Senado e que não avançamos na Câmara, que é a discussão sobre a remuneração por serviços ambientais. Sabemos que existem produtores que não utilizam suas áreas para cuidar de florestas próprias, assumindo esse ônus. Se o Congresso Nacional aprovar uma remuneração por esses serviços será um grande avanço, pois chegará o momento do reconhecimento à classe pela nossa contribuição ao meio ambiente.
Já podemos antecipar quais serão as prioridades do setor rural para 2012?
Rui Prado – Será um ano bastante produtivo para o setor, porque fizemos alguns ajustes para alinharmos nossa representação, unindo de forma uniforme os esforços dos 86 sindicatos rurais, Senar e Imea. Acredito que um dos focos para 2012 será a logística, pois sabemos que Mato Grosso é um estado com potencial muito grande no agronegócio, mas prejudicado pelas deficiências no escoamento da produção. Temos 25 mil km de estradas estaduais, mas apenas 5 mil km são asfaltados – ou seja, somente 20%. As rodovias federais somam 7,5 mil km, no entanto só 3,5 mil km estão pavimentados. E há ainda mais de 100 mil km das vias municipais sem asfalto. Não é possível continuarmos dessa forma, pois essa é reivindicação não só do setor rural, mas de toda a população do estado. Portanto acredito que esse sentimento deverá ser muito forte no próximo ano.
Sobre a qualificação profissional rural: essa é uma das grandes promessas para o futuro do agronegócio. Quais são as metas do Senar?
Rui Prado – Esse também é um dos assuntos que deverá pautar nossas ações. Há muitas pessoas com vontade de trabalhar, mas ainda falta qualificação necessária do ponto de vista técnico. Nós, por meio do Senar, estamos focados nesta questão que se tornou um gargalo. Para que cada vez mais pessoas possam ter esse conhecimento e oportunidades neste mercado que cresce constantemente, contratamos mais educadores e esperamos que a mão de obra possa acompanhar o mesmo ritmo de desenvolvimento da nossa potencialidade agropecuária.
Recentemente, a imprensa deu grande destaque à sua filiação no Partido Social Democrata (PSD). Existe algum projeto de candidatura política?
Rui Prado – Sei da importância que tem o processo político para o nosso país, mas neste momento venho desenvolvendo meu trabalho à frente da Famato e meu mandato se encerra somente em 2013, e ainda há possibilidades para buscarmos um novo mandato. Portanto, eu tenho o compromisso com o setor de agregar mais produtores, desde o pequeno ao grande, e à nossa “luta” para que possamos ter uma representatividade ainda mais forte. Essa é a prioridade.