Para resistir à pressão da agricultura e com as restrições ambientais para a abertura de novas áreas, a tendência de adotar um manejo intensivo das pastagens, que inclui a adubação, tem crescido. Até em regiões pecuárias mais tradicionais, como o sudeste de Mato Grosso e norte do Pará, o assunto correção de solo e adubação de pasto já circula entre os criadores.
Ou seja, o que costumava ser visto como despesa desnecessária hoje é considerado um investimento. "Antes o produtor não queria nem ouvir falar em adubar pasto. Hoje aceita a ideia e sabe que tem de fazer aquela área produzir. Essa barreira foi vencida", diz o agrônomo Maurício Palma Nogueira, da Bigma Consultoria.
Esse "avanço" na pecuária brasileira é uma das constatações do Rally da Pecuária (www.rallydapecuaria.com.br), expedição técnica que está visitando fazendas de corte em nove Estados. Realizado pela Bigma Consultoria e pela Agroconsult, o rally percorrerá, até novembro, 24 mil quilômetros, perfazendo 75% do rebanho nacional e 85% da produção de carne bovina. Até agora, as equipes já rodaram 14 mil quilômetros e visitaram 60 produtores.
Na paisagem, já é visível o avanço da agricultura. "O pecuarista que não investir em tecnologia e qualidade não terá como competir com GRÃOS, cana eucalipto", diz Nogueira. Ele compara: "A pecuária paga, em média, R$ 100 por hectare, ante R$ 500 a R$ 700 por hectare pagos pela agricultura. O eucalipto paga uma média de R$ 900 por hectare e a cana, em torno de R$ 600 por hectare."
Segundo o consultor, tradicionalmente o produtor prefere investir em ganhos zootécnicos (sanidade, nutrição e genética), que dão retorno mais rápido. "Já o retorno do investimento agronômico, que inclui a melhora de pastagens, demora mais, mas eleva a produtividade, o que dá fôlego para mais investimentos."
O produtor Maurício Tonhá, da Estância Bahia, em Água Boa (MT), acompanha a fertilidade de seus 6 mil hectares de pasto há dez anos. "Sei as áreas que estão melhor trabalhadas e onde vale a pena investir. A adubação é totalmente ajustada às necessidades de cada área", diz.
A fazenda movimenta cerca de 15 mil animais, com recria a pasto e engorda em confinamento. "Adubar custa caro, mas é viável se o sistema for eficiente. Daí a importância de encarar a fazenda como empresa." Adepto da integração lavoura-pecuária, Tonhá aproveita o plantio de soja, e de milho e sorgo na safrinha, para reformar áreas de pasto.
O consultor Nogueira calcula que uma reforma de pasto, que inclui o replantio do capim, custe em torno de R$ 3.500 por hectare; a recuperação varia de R$ 1.800 a R$ 2.200 por hectare. Segundo o agrônomo Alberto Bernardi, da Embrapa Pecuária Sudeste, na reforma da pastagem, o produtor vai retirar as plantas, preparar o terreno, fazer curvas de nível, corrigir o solo, adubar e semear o novo capim.
Se optar pela recuperação, a forrageira que já está na área é mantida e faz-se correção do solo, adubação e ajuste do manejo da planta (carga animal, altura de pastejo, etc.), não sendo necessário preparar o solo. "Importante ressaltar que a melhor forma de verificar a necessidade de calcário e adubo é fazer uma análise de solo", diz Bernardi.
Os resultados na Estância Bahia comprovam. A média anual da taxa de lotação ali é de 3 animais por hectare/ano, ante a média do Estado de 1 animal por hectare/ano. "Na época das águas, consegue elevar a taxa para até 5 animais por hectare/ano. Já a produção de carne é de 15 arrobas por hectare/ano, ante a média brasileira de 3 a 4 arrobas por hectare/ano. "Com adubação, integração lavoura-pecuária, rotação de pastagens e melhora na nutrição do rebanho, quero produzir 30 arrobas por hectare/ano em 2013", diz Tonhá.
A idade de abate é de 24 a 30 meses; a média do Estado é de 30 a 36 meses. "A agricultura está avançando e o pecuarista precisa achar maneiras de fazer frente a essa competição. A tendência é diminuir a quantidade de boi acabado a pasto e aumentar animais de confinamento."
Em São Luiz do Paraitinga (SP), o pecuarista Ricardo Silveira de Oliveira Lima, da Fazenda Liberdade do Mato Dentro, conta que a ideia de adubação em pastejo rotacionado intensivo surgiu em 1999 em outra fazenda do grupo, em Minas Gerais.
"A rotina de adubação de base, desde a instalação das pastagens, sempre existiu em nossas fazendas. Mas o primeiro projeto em Minas não foi adiante porque não estava suficientemente maduro. A agricultura ainda não avançava com tanta intensidade sobre as áreas de pecuária e muitas vezes era mais barato comprar mais terra do que adubar intensivamente. Além disso, iniciamos o projeto em área de 70 hectares, o que complicou o manejo, pois o número de animais ficou muito grande", diz o produtor, que tem 1.200 hectares de pastagens e rebanho de 2 mil cabeças em ciclo completo (cria, recria e engorda).
Em 2007, a ideia foi retomada. "Com a pressão do eucalipto, senti necessidade de aumentar o suporte da propriedade e a adubação intensiva surgiu como opção." O pastejo rotacionado intensivo foi instalado em módulos, subdivididos em dez piquetes cada.
"Periodicamente tiramos amostra de solo e enviamos para o laboratório. As adubações e calagens são determinadas por esses laudos e pelo histórico da área."
O manejo na propriedade de São Luiz do Paraitinga tem início com as chuvas e, em média, o lote pasteja três dias cada pi-quete. Quando o lote passa pa-rao próximopiquete, aduba-se o anterior. "O ganho de peso é potencializado, pois utiliza-mos suplementação e animais de excelente qualidade. Nas águas o ganho de peso é de 800 gramas/animal/dia", diz Lima.
No braquiarão o custo de adubação é de R$ 2.113,90 por hectare e, no mombaça, de R$ 2.560,30. "Estes valores são relativos a 2010/2011.É importante salientar que existe um aporte de capital que proporcionará uma rentabilidade compatível. O aproveitamento da integração lavoura/pecuária é um dos atrativos desta sinergia."
Na Agropecuária Fazenda Brasil, em Barra do Garças (MT), são 4.500 hectares de pastoeaintegraçãolavoura-pecuária-floresta é aliada da adubação das pastagens. "A soja fixa nitrogênio no solo. Quando chega o pasto,após três,quatro anos, aproveitamos o adubo residual, fazemos a correção do solo e aplicamos o que falta", diz o gerente da fazenda,Mário César Sabino Yoneda.
A fazenda movimenta, nas águas, rebanho de 11 mil cabeças, entre recria e engorda. Uma área de 110 hectares está sendo utilizada para fazer integração e, deste total, 35 hectares foram reservados para o plantio de árvores. "Plantamos eucalipto,mogno,nim,acáciae teca. Até as mudas crescerem, intercalaremos com agricultura. Quando as árvores estiverem bem formadas, plantamos pasto", explica Yoneda.
Novidade. A região é de pecuária tradicional e o sistema de integração e a adubação de pasto ainda são novidades. "Os pecuaristas tradicionais da região investem em genética, mas essa parte de manejo intensivo é pouco adotada", diz Yoneda. Ele diz que o projeto de integração na fazenda, que teve início no ano passado, deve avançar na região, por causa da demanda em alta por madeira e lenha.
"A madeira tem bom mercado. Vamos usar parte do eucalipto na própria fazenda e vender o restante."Yoneda explica que a integração com soja ajuda a diluir os custos do manejo intensivo do pasto. "O lucro da lavoura ajuda a pagar a reforma", diz.
Hoje, o ganho de peso do rebanho da fazenda é de 570 gramas/animal/dia na recria, mas a meta,segundo o gerente de Pecuária, Rogério Fonseca Guimarães Peres, é chegar a 600 gramas/animal/dia. De novembro até o fim de abril, no período das águas, a produção é de 8,8 arrobas/hectare.
"O manejo intensivo das pastagens inclui o respeito à fisiologia da planta e a suplementação estratégica dos bezerros jovens. Ainda não temos dados de quanto o solo adubado melhora a produtividade, mas, pela condição do animal,os ganhos são nítidos",diz Peres.
Na fazenda, a lotação média do ano, nas águas, é de 1,8 UA/hectare; na seca, de 1,1 UA/ hectare, o que dá uma média de 1,5 UA por hectare.