O assunto já se tornou unanimidade dentro da porteira: a falta de assistência e mesmo a qualificação são os gargalos para alavancar a produção de leite em Mato Grosso. Mesmo ocupando a 8ª posição no ranking brasileiro e produzindo 743,2 milhões de litros (volume alcançado de 2011), o maior produtor brasileiro de grãos ainda têm dificuldade para estimular internamente a cadeia leiteira. O sinal de alerta foi emitido nesta sexta-feira (9) em Cuiabá (MT) pelas entidades do setor produtivo durante a primeira edição do Encontro Aproleite.
A preocupação marcou o tom dos debates, responsáveis por levar 1,4 mil produtores de diferentes partes do estado ao Cenarium Rural, na capital mato-grossense. "O desafio é levar o conhecimento ao produtor rural. Somente em 2011, 81% deles não receberam assistência técnica para melhorarem suas produções", avaliou Alessandro casado, presidente da Associação dos Produtores de Leite de Mato Grosso (Aproleite).
No estado, os produtores de até 50 litros/dia correspondem a 51% do total e produzem 37,9 litros/dia. Enquanto isso, os produtores de acima de 500 litros/dia representam apenas 1,8% do número total de produtores e produziram uma média de 820 litros/dia.
Como lembra Alessandro Casado, acentuou-se a disparidade: muitos pequenos produziram pouco e poucos produziram muito. As constatações fundamentam-se no estudo inédito elaborado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), intitulado "Diagnóstico da Cadeia do Leite", publicado neste ano.
Pequenos ou grandes, produtores são unânimes em afirmar que retiram do próprio bolso os investimentos necessários para contratar profissionais técnicos das áreas de veterinária, agronomia e zootecnia, por exemplo.
"Quando se precisa de informação tem que procurar por conta própria", desabafou o produtor Claudinei Alves, de São José dos Quatro Marcos, município a 343 quilômetros de Cuiabá. Há 15 anos atuando na atividade leiteira, em sua propriedade são cerca de 430 litros de leite retirados mediante ordenha mecânica.
"Como o produtor vai produzir sem assistência", questionou ainda Antônio Fernando, produtor em Mirassol D'Oeste.
Sucateamento
Presidente do Sistema Famato, Rui Prado é enfático ao afirmar que os órgãos que dão suporte à produção agropecuária estão sucateados. "O governo do Estado não está dando condições para a Empaer criar tecnologias e transferir conhecimentos aos produtores rurais. A instituição está morrendo. Isso tem que mudar urgente", disse o dirigente ao se referir à Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural, importante aliada da produção familiar de alimentos.
O dirigente voltou a chamar a atenção ainda para a qualificação dos próprios produtores rurais. Quanto mais elevado o nível de formação maior será o rendimento dentro da porteira. "É por isso que temos que focar na qualificação do produtor rural, incentivar para que os filhos destes produtores permaneçam na atividade e fazer com que o governo federal invista nesta cadeia", ponderou durante sua fala.
Produção
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011 Mato Grosso produziu 743,2 milhões de litros de leite, o que representa um aumento de 5% em relação ao volume de 2010, quando foram 707,10 milhões de litros de leite, por sua vez 8% superior ao registrado em 2008 (665,55 milhões de litros).
Com metas ousadas, o estado quer se tornar o número um no ranking brasileiro da produção, mas sabe que para isso vai precisar imprimir um crescimento de pelo menos 27% ao ano, conforme Rui Prado. "Embora seja uma importante cadeia produtiva geradora de emprego e renda em nosso estado, infelizmente, ainda carece de pesquisa, mão de obra qualificada, apoio técnico e investimento financeiro", argumentou.