Superávit da balança comercial mato-grossense, puxado pela comercialização das commodities agrícolas, deve manter a curva ascendente por mais um ano, se confirmadas as projeções dos representantes do setor produtivo estadual. Com saldo de US$ 9,521 bilhões em 2011, alta de 27,59% sobre 2010, o Estado passou a ocupar a 8ª colocação no ranking nacional, ascendendo uma posição, ao responder por 31,95% do saldo da balança comercial brasileira.
Para 2012, o cenário deve permanecer favorável para a agricultura estadual, segundo análise do diretor executivo da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Seneri Paludo, considerando que nos últimos 3anos o setor tem passado por estabilidade. "Acreditamos que teremos mais uma vez uma boa rentabilidade". Mas, se considerado o cenário nacional, o consumidor final pode pagar mais caro por alguns produtos, como arroz, derivados de milho, soja e carnes, por causa da redução na oferta.
Paludo lembra que há 3 meses, havia um cenário de certa preocupação quanto aos preços das commodities agrícolas, com o país caminhando para mais uma safra recorde de soja e, principalmente, de milho. Mas, com a estiagem no Sul do país confirmando quebra de safra, os preços se elevam, favorecendo os produtores mato-grossenses. "Mas não podemos ficar dependendo dessas variações climáticas para garantir rentabilidade". Ele comenta ainda que a agricultura sofre com a sazonalidade e, infelizmente, quando há bons preços, é porquê há menor oferta de produtos e vice-versa.
Consultor em agronegócio, Amado de Oliveira Filho, concorda que o fator clima irá contribuir para alta dos preços da soja, milho e arroz e acrescenta que parte das lavouras de soja ao sul de Mato Grosso também sofreram com o mesmo fenômeno climático. E, complementa, a torcida dos produtores é sempre pelo aumento da produtividade, uma vez que por aqui a regularidade das chuvas contribui para a piora das condições das estradas, encarecendo o frete, que neste início de ano subiu em média 15%.
Para a cotonicultura, os preços devem permanecer estáveis, após retração no final do ano passado, sequencial aos elevados preços do produto nos últimos meses de 2010 e parte de 2011, por causa da escassez do produto no mercado. "A gente semeou uma grande safra neste ano, que tem que terminar de ser plantada".
Na pecuária, acometida por mudanças mais significativas desde a crise econômica iniciada em 2008, a recuperação tem acontecido, mas com mais lentidão, observa o superintendente da Famato, Seneri Paludo. Para Amado de Oliveira Filho, o encolhimento da safra de milho no Sul do país deve refletir em uma menor oferta de ração, prejudicando a atividade de confinamento e diminuindo a oferta de animais para o abate a partir do 2º semestre de 2012.
Na avicultura e suinocultura a situação se repete e, sendo assim, os preços das carnes podem ficar mais caros para o consumidor final. Diretor executivo da Famato complementa, lembrando que de todas as atividades da cadeia produtiva, a pecuária é que mais tem inovado, incluindo não apenas a adoção do confinamento e dosemiconfinamento, mas também da integração lavoura-pecuária e da prática de inseminação artificial. "Apesar das áreas de pastagens não terem expandido, o rebanho não reduz, ao contrário".
Superintendente da Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari sustenta que o confinamento é uma tendência cada vez mais forte em Mato Grosso, que deve se tornar o maior confinador do país, por causa da expressiva produção de grãos. Mas os investimentos na atividade do confinamento, diz, depende da rentabilidade da pecuária extensiva, que em 2012 deve ter os preços mantidos nos patamares de 2011. "Em 2011 não tivemos grandes oscilações de preços nem variação na oferta de animais e este ano parece ser igual".
Para o setor madeireiro, o uso de manejo florestal deve garantir um ano de estabilidade, conforme avalia o vice-presidente do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira (Cipem), Geraldo Bento. "O manejo florestal é o carro-chefe do nosso setor e, com a proibição do desmatamento fomos beneficiados porque quanto mais floresta, mais matéria-prima temos para trabalhar".
Sobre os projetos de reflorestamento, Bento informa que têm avançado, mas está longe de apresentar a pujança do Sul do país.
Entraves – Na pecuária, a principal expectativa dos pecuaristas está relacionada à suspensão do embargo russo, iniciado em julho de 2011. Outro problema que tem persistido é a paralisação das plantas frigoríficas habilitadas para exportação, que atualmente totaliza 15 no Estado, diz superintendente da Acrimat. "Estamos começando 2012 do mesmo jeito que começamos 2011, com praticamente o mesmo número de plantas paralisadas".
Mas, acrescenta Vacari, a solução decisiva para o setor neste ano é a reabertura do mercado russo e a superação da crise econômica europeia. “Assim, teremos condições de praticar as vendas nos volumes anteriores à crise de 2008”.
Na agricultura, algumas ameaças ainda podem afetar a rentabilidade dos produtores e a produção mato-grossense, como a expansão de focos de ferrugem asiática – que já somam 34 registros – e oexcesso de chuvas durante o desenvolvimento das lavouras de milho e algodão.
Prolongamento da crise nos países europeus também afeta o setor, assim como o aumento do custo de produção, com as mudanças na legislação tributária e as condições de logística de transporte. Para Seneri Paludo, da Famato, há 3 desafios que precisam ser enfrentados para garantir a sustentabilidade da produção em Mato Grosso, a médio prazo.
"É preciso promover uma reforma trabalhista, com adaptação das leis para o campo e qualificação da mão de obra. Outra questão é a reforma tributária, necessária para acabar com essa guerra fiscal entre os estados. E, por último, é a melhoria da infraestrutura logística".
Para o setor de base florestal, algumas mudanças que já afetam o segmento são o aumento e alteração na cobrança de alguns tributos e taxas, como da Unidade de Padrão Fiscal (UPF) e Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS).
"Esperamos também que os projetos de manejo sejam aprovados mais depressa, porque no ano passado fomos prejudicados com a greve da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema)".
Verticalização – Para o setor industrial do Estado, a expectativa é de continuidade na expansão, com atração de novos empreendimentos. De acordo com o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Edgar Teodoro Borges, mesmo para os próximos anos, com a ameaça da suspensão do incentivo fiscal para empresas já instaladas no território estadual, não haverá prejuízos. "Vamos manter condições para que essas empresas continuem aqui".