A comercialização de soja, em Mato Grosso, neste mês está sendo represada pelos problemas logísticos, que nesta safra, pelo volume e pelas condições climáticas, estão mais agravados do que nunca. As vendas, conforme aponta o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), evoluíram menos do que o espero para o momento. Neste mês, da previsão de produção de 24,13 milhões de toneladas, 75,9% estavam negociados, 4,3 pontos percentuais abaixo do observado em período do ano passado.
Conforme o Imea, por meio do Boletim da Soja, publicado ontem, esse avanço de apenas 3,2 pontos percentuais de fevereiro para março, “nunca foi visto para o período, já que o Estado está em plena colheita”, exclamam os analistas do Instituto. A ‘marcha lenta’, que também tem a ver com a queda dos preços, reflete a dificuldade para o escoamento da produção.
“A condição logística atual pesou sobre os negócios e fez com que as tradings (empresas compradoras do grão), preocupadas em cumprir os contratos já realizados, deixassem de comprar mais grãos. As 18,3 milhões de toneladas (que representam os quase 76%) vendidas estão sofrendo com atrasos para o transporte de caminhão até o porto, por falta desses veículos e más condições das estradas, grandes filas para descarregamento no terminal de Alto Araguaia, sul do Estado, e dias de espera para esvaziar os caminhões nos portos, principalmente Santos e Paranaguá”, informa o Boletim.
Outro fato que também inibiu o interesse do produtor em assumir a posição vendedora e comercializar a soja já colhida, foi a redução de preços no último mês. O preço médio ponderado de comercialização caiu de R$ 49,30/saca para R$ 48,87/saca. “Essa situação de baixa comercialização deverá se estender até uma definição dos meios de escoamento nacional, tanto estradas quanto ferrovia e portos, e de uma reação dos preços no mercado interno, atraindo vendedores e compradores”.
COTAÇÕES – Conforme análises dos preços em adoção no mercado, o Imea destaca que o comportamento interno refletiu o cenário do mercado internacional, que apresenta uma sequência de realização de lucros e início de demanda voltada para o mercado sul-americano.
Com fortes quedas no mercado a partir de última quarta-feira, os preços na praça de Sorriso (460 quilômetros ao norte de Cuiabá) abriram a semana com a saca de soja sendo cotada a R$ 43 e fechou a semana com preço de R$ 41,50 na sexta-feira, dia 15.
No município de Campo Verde (139 quilômetros ao sul de Cuiabá), os preços oscilaram de R$ 46/sc na segunda-feira (11) a R$ 47/sc na terça-feira (12), porém fechando a semana cotado a R$ 45,80/sc.
PERDAS – O Boletim desta semana também avaliou as perdas impostas pelos fatores climáticos. O primeiro terço da área colhida, em Mato Grosso, registrou problemas na qualidade dos grãos por ter sido extraído no período de maior índice pluviométrico do Estado. A união entre aumento de produção de soja precoce, que foi colhida entre janeiro e fevereiro, e chuvas intermitentes nesse período, fez com que a oleaginosa saísse de campo com umidade elevada e grandes níveis de avarias.
“O principal impacto ocorreu na perda de qualidade e a perda financeira do produtor. A perda financeira nesse período foi de R$ 903,4 milhões. Com esse valor e considerando o custo operacional para a safra 2012/13 de R$ 1,2 mil por hectare, seria possível plantar 752.873 hectares, ou seja, aproximadamente 10% da área atual de soja de Mato Grosso com o valor perdido”.
Fora isso, há um incremento de custo de frete que chega a 50% em determinadas regiões do Estado, num intervalo de um ano. Cerca de 30% do valor da saca está sendo abocanhado pelo transporte, neste ciclo.
TRANSGÊNIA – Mato Grosso tem como destaque a produção de soja geneticamente modificada, chamada de transgênica. No entanto sua história é recente e começa na safra 2005/06, quando iniciou sua vida no Estado, cobrindo 30% da área da época, referente a 1,9 milhão de hectares. Esse percentual durou até a safra 2007/08. Com novas cultivares surgindo e uma maior aceitação da tecnologia resistente ao glifosato, rapidamente a transgenia da soja caiu no gosto do produtor mato-grossense. Isso fez com que a área de convencional perdesse competitividade e com que a área com transgênica atingisse cobertura atual de 82%, ou, 6,5 milhões/ha. “Como as regiões tradicionais em plantio de convencional, oeste e nordeste, cada vez mais optam pelo transgênico, o crescimento deverá continuar”.