Uma comissão do Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento (Mapa) se dirige nesta quinta-feira (31) para as terras da reserva xavante de Marãiwatsédé, no nordeste de Mato Grosso, para investigar o risco de propagação da ferrugem asiática a partir das lavouras que tiveram de ser abandonadas desde dezembro pelos produtores por força da retirada dos ocupantes não índios e motivada por decisão judicial.
Pelo menos mil hectares de plantação de soja na chamada gleba Suiá Missú (nome da antiga fazenda onde a terra foi demarcada na década de 90) inspiram preocupação.
Uma equipe do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) recentemente visitou o local, mas restrições impostas pelas forças policiais responsáveis por conduzir a desintrusão judicial da reserva acabaram limitando a abrangência da vistoria. De qualquer maneira, o coordenador da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Mapa, Wanderlei Dias Guerra, alerta que essas lavouras não passaram por qualquer tipo de controle recentemente.
"Isso é certo. São lavouras onde não foi feito controle algum. A situação não chega a ser alarmante, mas é preocupante", alertou o coordenador.
Por isso, caso algum foco de ferrugem se desenvolva, estas áreas se tornam de alto risco, podendo deflagrar a propagação da epidemia até para fora dos limites do Estado.
Em áreas de Mato Grosso onde a ferrugem não foi controlada, chegou-se a constatar uma infestação entre 60% e 70% das folhas, o que, junto com as chuvas recentes, inspira cuidados com os mais de 165 mil hectares de Suiá Missú, sobretudo nas lavouras de soja deixadas para trás sem que seus produtores tivessem tempo hábil para realizar a colheita.
Funai
A vistoria que se inicia nesta quinta-feira foi solicitada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja) e pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) após produtores da gleba reportarem o risco de desenvolvimento e propagação da doença em lavouras.
A intenção é produzir um relatório que convença a Fundação Nacional do Índio (Funai), que agora controla plenamente a área da gleba, a autorizar a retirada da produção daquelas áreas consideradas aptas.
Num primeiro momento, alguns produtores buscaram na Justiça o direito em caráter liminar de estender sua permanência nas terras, apesar do cumprimento provisório da sentença de desintrusão. A intenção era colher a produção antes que a área fosse retomada pelos índios. Entretanto, os pedidos de liminares foram indeferidos tanto na Justiça Federal em Mato Grosso quanto em Brasília, no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).
Após a tentativa judicial, a Aprosoja entrou em contato com a Funai informando a respeito do risco de propagação de pragas. Alguns produtores dizem, inclusive, que a própria Funai se propôs a realizar a colheita, mas acabou expedindo autorização a pelo menos um produtor da gleba para que a fizesse. Em quatro dias ele deveria retirar do campo toda oleaginosa, tempo este considerado insuficiente.
"Como há áreas em ponto de colheita, a Funai sabiamente autorizou", comentou o gerente técnico e institucional da Aprosoja, Nery Ribas, segundo o qual a intenção é que a Fundação estenda o mesmo benefício a outros produtores.
A região nordeste
A região Nordeste de Mato Grosso – onde situa-se a área que será percorrida pela comissão do Mapa – detém 15,3% da área agricultável com soja no estado, além de outros 15% de produção.
Se as estimativas de safra forem atingidas, somente esta região colherá 3,6 milhões de toneladas, elevando em 27,8% o resultado produtivo frente ao do último ano. Em função da incorporação de áreas de pastagem pela agricultura, o espaço reservado à soja também cresceu 11,6%, atingindo em 2012/13 um total de 1,2 milhão de hectares.
Mas, como destaca Nery Ribas, os resultados só serão alcançados mediante condições favoráveis, entre as quais clima e também controle de doenças e pragas.
Tanto Mapa quanto Associação dos Produtores voltam a chamar a atenção do produtor rural para manter a vigilância sobre as lavouras de soja. O objetivo é reduzir riscos e minimizar perdas. Na safra 2011/12, por exemplo, os prejuízos provocados pela ferrugem asiática oscilaram de R$ 750 milhões a até R$ 1 bilhão, conforme a Aprosoja.