O grupo de produtores rurais que está na França em Missão Técnica, promovida pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), conheceu na quinta-feira (15/06) o sistema agropastoril da região dos Pirineus.
Os primeiros registros de comunidades agropastoris nessa região são do século XII, mas acredita-se que o sistema pode ter surgido antes. Nesses sistemas os animais são criados de acordo com as características naturais do relevo, da vegetação e do clima. Hoje, pelo menos seis mil famílias em toda a região dos Pirineus, que vai até a Espanha, vivem do agropastoralismo.
Felipe Lacube, pastor que está há 25 anos na região e hoje possui um rebanho de 80 cabeças de gado, 100 de suíno e 600 patos, foi quem recebeu os produtores mato-grossenses. Lacube conta que durante o inverno seu rebanho bovino pastoreia na parte baixa da região e quando o frio vai embora os animais sobem 2600 metros e são criados soltos com animais de outros pastores. Essa migração periódica de rebanhos da planície para as montanhas recebe o nome de transumância. De acordo com Lacube, seus animais levam em torno de um dia e meio para completar a subida.
O pecuarista de Juara, Jorge Mariano de Souza, ficou impressionado com a dificuldade que os pastores enfrentam. “A força e a coragem desse povo é de se admirar. Produzir neste sistema não é nada fácil, o manejo do gado é muito trabalhoso. Depois que sobem, os animais ficam soltos correndo riscos de serem atacados por ursos. O produtor não sabe ao certo quando vai ver seus animais novamente. Nessas horas vemos o quanto somos abençoados com terras planas, onde temos controle do nosso rebanho”.
Lacube e outros pastores conciliam a atividade com o turismo. Segundo ele, sem o manejo dos animais o turismo não seria possível. Durante o inverno a região recebe milhares de turistas devido às estações de esquis, mas se os animais não tivessem passado o verão nas montanhas a atividade turística seria inviável. “São os animais que mantêm os montes limpos e intactos, eles se alimentam de arbustos altos que impediriam a prática de esqui. O pastoreio também permite a existência de vegetais endêmicos e animais que ajudam na questão ambiental”, explicou.
“Achei fantástico esse sistema em que a criação de gado é integrada com o turismo. É muito interessante ver que a preservação da cultura atrai pessoas para a região”, disse o pecuarista de Paranatinga Eduardo Minoru.
Tradição – A preservação da tradição foi outro ponto que chamou a atenção dos produtores mato-grossenses. Tudo o que é consumido é produzido na região, não há importação de produtos. Felipe Lacube também é sócio de um restaurante nos Pirineus, no estabelecimento dele e nos demais só é possível encontrar produtos locais.
“Na região não é possível encontrar suco de laranja porque alimentos cítricos não são produzidos nos Pirineus. Esse fortalecimento da cultura, da regionalização e da produção local conciliado à vontade de manter as tradições é algo bem elaborado e respeitado aqui. Para nós isso é uma lição”, afirmou o diretor de Relações Institucionais da Famato, José Luiz Fidelis.
Missão Técnica – A Missão Técnica na França começou dia 12 de junho e segue até o dia 25. O objetivo da viagem é conhecer a produção agropecuária da França, trocar experiências e adquirir novos conhecimentos que poderão inspirar e auxiliar o desenvolvimento da produção mato-grossense.
Na oportunidade, haverá um momento em que serão apresentadas informações das três fazendas ganhadoras do Prêmio Sistema Famato em Campo Edição 2016 para produtores franceses.
É por meio das missões técnicas que os participantes podem conhecer outros modelos de propriedades rurais, o manejo aplicado, formas de gestão, cooperativas, indústrias e tecnologias utilizadas tanto para a agricultura quanto para a pecuária.
O grupo ainda vai conhecer a agropecuária em Aveyron, a Cooperativa Terrena, uma das maiores da França e o Ministério da Agricultura do país.